Parece um contraditório, mas não o é. Ao ressuscitar, Jesus continuou marcando presença na vida das primeiras comunidades cristãs, de forma misteriosa, aparecendo em diversas ocasiões. Um morto que continua vivo naqueles que O encontravam nos impactos de sua presença reveladora da “vida que vence a morte”. Este é o caminho de fé das pessoas que acolhem a Palavra do Evangelho.
Antes da Ascensão, durante quarenta dias, Jesus foi se revelando e provando para as pessoas com quem convivia a sua nova condição de vida, agora ressuscitado. Além de ser um fato inusitado, Ele ainda dizia: “Eu e Pai somos um” (Jo 10,30). É o mistério da ação reveladora da presença, também do Pai, no encontro com os primeiros cristãos, unindo as realidades do céu e da terra.
Revelando a presença do Pai, Jesus anuncia ainda a vinda do Espírito Santo, que aconteceu no dia de Pentecostes, cinquenta dias depois do Domingo da Ressurreição. Com esses fatos, a visão trinitária apresentada pela Sagrada Escritura se torna realidade. O Pai é apresentado como Criador; o Filho, Jesus Cristo, como Salvador, e o Espírito Santo, como guia e santificador.
Estamos distantes por mais de dois mil anos da realidade vivida pelos primeiros cristãos. Todo ano, principalmente no período da Páscoa, atualizamos nossa memória ao proclamar Jesus Cristo como Deus e homem, ressuscitado e presente na vida e caminhada das comunidades cristãs. Essa presença dá sentido e conforto para os desanimados, mas confiantes na esperança das promessas divinas.
Falar de “presença na ausência” implica novidade, novo céu, nova terra e nova Jerusalém como cidade eterna, imagem do paraíso, mas tudo em conformidade com a presença salvadora de Jesus Cristo. Passou o Antigo Testamento, mas a história do povo de Deus continua. As dificuldades encontradas e enfrentadas são inerentes no itinerário comunitário da vida das pessoas.
Somos agora o atual povo de Deus e temos sempre que nos perguntar sobre a nossa identidade na vida cristã. Acontece um novo pentecostes, com marcas comunitárias, porque as inspirações divinas estão presentes e perpassam pelas diversas situações do cotidiano. O importante é a consciência de responsabilidade que atinge a todas as pessoas, para construir um mundo de vida nova.
(*) Arcebispo de Uberaba