O imprevisto é obra do previsível, ainda que muitos tentem provar o contrário. Assistimos ao resgate dramático de 33 mineiros numa mina de cobre no Chile, que foram soterrados por uma megaexplosão rochosa, no dia 22/08/10. Toneladas e toneladas de rocha obstruíram o caminho de ida e volta à jazida, com chance zero para socorro. Está definitivamente provado que a esperança nunca deve morrer, embora já tenham dito há milênios: “A esperança é a última que morre”.
Por que o inesperado é obra do previsível? Num minúsculo parafuso não apertado ou numa simples ordem descumprida, podem estar as causas daquele histórico episódio.
O mundo sabe que trabalhos confinados em subterrâneos são extremamente perigosos, portanto, estão previstos ali os graves acidentes. “Meio erro” é um erro inteiro. Qualquer surpresa que comprometa a vida é sempre fruto do desmazelo e os trabalhadores chilenos viveram isso na própria pele. Tanto é verdade que o governo irá rever as normas de proteção no trabalho dos mineiros naquele país. Agora virão à tona verdades mantidas no submundo da terra. Aguardemos.
Tenho minhas dúvidas se um ditador, diga-se o ex-presidente chileno Augusto Pinochet, se empenharia em resgatar 33 trabalhadores há um custo de 40 milhões de dólares. No ano de 2000, um grupo de cento e dezoito militares russos morreu enclausurado no submarino Kursk, nas profundezas do mar. O resgate deles não foi possível porque falou mais alto a dureza de Vladmir Putin. A democracia sugere humildade e o presidente Sebastian Piñera a exerceu condignamente, sob os olhos do mundo. Daí o êxito que presenciamos.
Florêncio Ávalos Silva, primeiro a ser resgatado, e Luiz Urzúa Iribarren, o último do grupo vindo à luz do sol, coroaram a Operação Esperança com absoluto êxito. O Chile tem agora mais 32 heróis, somados a um boliviano!
Oxalá outros mineiros espalhados pelo mundo não necessitem de um resgate idêntico, já que essa possibilidade desastrosa existe escondida nos labirintos da mãe Terra. Eis o previsível que é sistematicamente esquecido.
(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro