Detectamos hoje um grande fechamento e intolerância nos relacionamentos e nas tratativas sociais, mas também observamos uma redução das distâncias existentes entre as pessoas por causa de uma comunicação globalizada, que consegue impedir o direito à intimidade. Tudo é olhado, observado e controlado, inclusive com invasão, sem respeito, na individualidade de cada ser humano.
No entender do Papa Francisco, aumenta sempre mais a primazia da comunicação virtual e dificulta as relações interpessoais autênticas, que supõem calor humano, gestos físicos e aperto de mão. Há uma aparência de sociabilidade, mas não constrói a unidade. Pelo contrário, consegue ampliar o individualismo e o desprezo pelos mais frágeis, não constrói pontes e não consegue unir a humanidade.
Interessante que a virtualidade da comunicação isola as pessoas, mas também consegue criar obsessão por ela. Tem a conduta de desregramento, desrespeito e agressividade na forma de comunicar, onde aparecem difamações, afrontas verbais até chegar a destroçar a figura do outro. Favorece o encontro de pessoas com os mesmos ideais e dificulta o confronto entre as diferenças.
É um mundo sem ética, onde as pessoas ultrapassam seus limites, divulgam notícias falsas, agem com violência verbal e muito fanatismo, tudo veiculado pela internet. Esse modelo de comunicação não contribui com a fraternidade, porque deixa de fazer confronto com a realidade concreta. Contempla um mundo que não consegue ouvir a voz do pobre, do enfermo e nem o grito da natureza.
Estamos no mundo do clique, do toque de um dedo, tudo instantâneo, que nem permite que haja reflexão. É insensibilidade diante do dom da sabedoria acumulado na história de cada pessoa. Reina a superficialidade e o descompromisso com a verdade. O essencial para a vida fica descartado, a liberdade acaba sendo ferida e surge a baixa autoestima com desmotivação para a criatividade.
A destruição da autoestima de alguém é uma maneira de domínio do poder. É o que está acontecendo com a globalização da comunicação criando nova cultura a serviço dos mais poderosos, fragilizando ainda mais o poder de autodefesa dos pobres. Mas as sombras não podem encobrir a esperança fundamentada na verdade, na bondade, na beleza, na justiça e no amor, diz o Papa Francisco.
Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba.