Chegar à minha idade dos oitenta anos tem muito poucas vantagens da vida. A ampulheta já passou para baixo quase toda a areia da existência – e desculpem-me os que conhecem, mas tenho que explicar aos jovens que estão sempre com o iPod na mã ampulheta é um contador medieval, são dois copos que se comunicam por um gargalo muito estreito, e dentro uma areia fina. Na vida nascemos com o copo de cima cheio, mas a danada da areia já escorrendo pro copo de baixo... até esvaziar-se de todo, ou seja, morrer. Pode pegar seu iPod, garoto – a minha areia restante é pouca. Toda esta introdução serve para justificar o título e motivo desta crônica que a experiência me ensinou. Vam’la, diria aqui o Dino, saco cheio com a tal ampulheta. Falar e escrever sobre política são coisas da vida diária, só que este ano é ano eleitoral. Ou seja, nós todos vamos escolher nossos governantes. Governante, garoto, é o cara que vai criar ou cumprir as leis que regam a vida do povo. Aprenda logo que governante não é um trabalhador comum, que levanta cedo e vai suar a camisa pra ganhar o que chamamos pão de cada vida. A profissão do governante chama-se política, e ela tem coisas especiais de causar inveja. Primeir não tem escola nem obrigação de estudar, fazer exames, ser reprovado ou aprovado. Não tem patrão fixo, seu salário não falta nunca, vem dum tal tesouro nacional que toma todo o dinheiro de nós todos... e o tal político é que o distribui. Bastam estas linhas pra dizer que política é uma profissão invejável, tão atraente que seduz todos aqueles que não têm profissão ou querem trocar a sua cansada por coisa mais fácil. É deste time, meu amigo, que você vai tirar e escolher quem vai lhe governar. Como pensar, fazer e votar? Olhe, minha ampulheta está no fim e eu ainda não aprendi esta ciência. Apenas lhe passo coisas de minha observação. Primeira, do dicionári picaretagem vem antes de política, e são gêmeas. Pergunto-me até hoje: porque um indivíduo larga toda a sua vida e vai ser candidato político? Deixo de lado um time de vigaristas e oportunistas que aparecem em todas as eleições e para qualquer cargo – e são eternos candidatos a qualquer coisa. Tem um outro time, mais forte e com intenções próprias: ganhar dinheiro, lustrar sua vaidade, encher-se de puxa-sacos... e até algum que quer mesmo é pegar mulher boa e nova. O Enem da política devia ser exame obrigatório e teria como primeira pergunta: por que você quer ser político? Caramba, iríamos ter respostas extraordinárias: pela minha pátria, para acabar com a injustiça. Com a pobreza, com a doença, com a ignorância, com os ricos demais e os pobres demais... ou com a ponte quebrada no córrego das Lages... Meu caro, eu não sei o que é realmente o ideal dos candidatos. Somente não acredito naquele arroz-doce que apregoam: o bem do meu amado povo. Por isto e afinal: não tenho conselho, coisa perigosa. Apenas opiniã vá com calma, não tenha pressa em aderir e votar. Ainda há tempo...
(*) Médico e pecuarista