Queremos viver no Brasil das Maravilhas exibido nos horários políticos e nas propagandas do governo. Tudo na mais perfeita ordem: educação primorosa; professores satisfeitos; polícia bem remunerada; inúmeros médicos; trabalho e saúde de Primeiro Mundo; rodovias asfaltadas; mulheres absolutamente seguras, protegidas pela Lei Maria da Penha; dilapidadores do erário público e outros criminosos rigorosamente punidos; população carente devidamente assistida. Paraíso!
Mas noticiários isentos, na mesma mídia, apresentam-nos outro país: aquele onde a corrupção é soberana nas relações entre público e privado; onde soldados invariavelmente arriscam a vida protegendo cidadãos e bens; onde a ganância campeia em cargos públicos e a ordem é levar vantagem; onde saúde e educação, deveres do estado, deixam a desejar; para onde se importam médicos, já que o país não os forma em número suficiente; onde rodovias, raras exceções, são da pior espécie, causando acidentes, às vezes com vítimas fatais; onde mulheres são massacradas por companheiros, mesmo depois de fazer boletins de ocorrência; onde a droga impera. País complicado, esse dos noticiários, bem diverso do propalado pelo governo.
Em vez de gastar com publicidade, o governo deveria investir em segurança pública, saúde e educação. E construir boas escolas, creches, hospitais, penitenciárias. Deveria tratar dignamente aposentados, cujos vencimentos minguam a cada ano. Deveria transpor rios e combater a indústria da seca – que, há anos, beneficia bolsos específicos, mesmo com o sofrimento de milhares de irmãos nordestinos. Deveria imitar países que combatem a burocracia, que alimenta a indústria do papel e do suborno, infernizando a vida de quem gera emprego e produz. Deveria montar malha ferroviária, bem como aproveitar a bacia hidrográfica para transporte de pessoas e produtos.
O brasileiro, que ama sua Pátria, já extenuado por gritar em vão nos protestos de rua, viu sua esperança morrer e se fechou em casa, onde assiste pela tevê ao discurso dos políticos, que em nada mudou. Só Deus com jeito. Sorte nossa se essa história de falar que Deus é brasileiro não for só propaganda do governo...