ARTICULISTAS

Prosa entre amigos

De sorriso largo em pele morena, encanta quem ouve

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 28/08/2012 às 20:01Atualizado em 19/12/2022 às 17:42
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De sorriso largo em pele morena, encanta quem ouve. Fala como se houvesse uma janela aberta no tempo à espera da fala. Fala porque gosta de ouvir, de trocar ideias e deixar jorrar a história. Quando estudante de Odontologia, pensava em atender a população ribeirinha do Amazonas. Ao se formar, entrou na Marinha, tornou-se tenente e se deslocava rio acima e abaixo, cuidando de crianças, batizando-as, dando-lhes um nome – sempre nomes simples e de fácil escrita. Dedicava-se, também, aos adultos, ensinava a todos os princípios básicos da higienização pessoal e do cuidado com os dentes. Os seus dias, desde pequena, menina-moça e, agora, mãe e esposa, sempre foram agitados. Elétrica, embora feliz. Confessou-me que gosta de tratar bem as pessoas e que os seus problemas são menores em relação aos dos outros, por isso pode ajudar, sempre. Olhou-me com o olhar confessor e disse-me: “todos os meus pecados eu já os paguei, agora posso divertir”, e gargalhou desinibida, sem traumas de ser feliz. Casada, mãe do Arthur e do João, sempre os tem em suas individualidades. Cada um do seu jeito, que ela discorre na fluência de quem ama, porque os conhece e os tem em suas especificidades. Ambos são nutridos pelo hábito da leitura e da boa música – coitados de nós, que gostamos de uma boa música em dias de mau gosto coletivo. Ela cultiva a estética como princípio do bem-estar, e não da vaidade reducionista do esticar de peles. A estética, como concepção do belo, que agrada à alma por estar de bem consigo mesma. Casada com o Antônio – exímio piloto –, divide os seus dias entre aqui e ali, embora sempre saudosamente juntos. Uma mãe bela e sorridente, com dois filhos; eles se tornam guarda-costas por ciúmes. Espetáculo de vida, ou vida cotidiana transformada em espetáculo, só porque se amam. A tragédia está fora dessa crônica, povoa páginas daqueles que não são vigilantes, ou, sendo, se tornaram destemidos. Ela foi minha aluna de uma turma que nos deixou saudades, embora eu esteja entrando numa idade que me faz muito saudoso. Os alunos de hoje, no entanto, são diferentes daquela época; ainda bem. Diferença saudosa, éramos carinhosos. O afeto escolar era cultivado e as relações sociais, mais soltas e leves. Os dias atuais são tensos demais, marcados por severas doses inexistentes do real, devido a um conjunto de teorias e de modismos que poderiam ser desnecessários. Inventamos problemas demais, teorizamos demais, amamos de menos. Minha amiga é odontóloga de mão cheia. Faz implante e trabalha a estética bucal. Leide Jordão – que é Oliveira – merece essa crônica, porque faz um conjunto de pessoas felizes com o seu jeito amável e carinhoso de tratar os outros e de ver o ser humano como a extensão da vontade Divina. Diferentemente de Oscar Niemeyer, que embora trabalhe com a estética, só se realiza na infelicidade daqueles que povoam as suas obras.

(*) Professor gilcaixeta@terra.com.br

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