São duas palavras interligadas, porque só cuida quem está próximo e procura se relacionar com o outro. Foi o que Deus fez com as pessoas, fez aliança, escolheu um povo para testemunhá-lo na história da salvação e enviou seu Filho Jesus para comunicar e realizar sua obra de proximidade e cuidado com toda a humanidade. Isso aconteceu por um gesto de profundo amor e misericórdia.
A experiência da pandemia do coronavírus, com dimensão universal, é um especial convite para o seguimento de Jesus Cristo nos gestos de proximidade e cuidado com o irmão. Mas isto depende da superação do egoísmo e do endeusamento das pessoas em relação ao acúmulo de bens de forma desnecessária, que tira a possibilidade da grande maioria das populações de terem vida digna.
O mundo vive sob o estigma de muitas escravidões que causam preconceitos, violência e situações desumanas. Assistimos de perto esses fatos agora nos Estados Unidos. Mas também acontecem no Brasil e, quem sabe, em nossas comunidades e famílias. O processo de libertação do povo hebreu, lá do Antigo Testamento, continua até hoje, porque a maldade está entranhada nos corações.
Por causa da proximidade com a humanidade, Deus cuida da vida das pessoas com a arma da gratuidade, da misericórdia, e revela o nível de seu amor pelo mundo. Exige também de todo ser humana uma tomada de atitudes transformadoras e compromisso de fidelidade concreta a seus ensinamentos, mas dentro das realidades cotidianas da vida. A fidelidade supõe renúncias a todo instante.
A história foi sempre marcada por atitudes desafiadoras, muitas vezes como fruto de práticas que não ajudam na proximidade das pessoas. Vemos realidades desumanas com marcas de injustiça, de desvios públicos e inverdades. É inconcebível alguém tirar proveito econômico e político num momento trágico da população como está acontecendo neste tempo de epidemia no Brasil.
O mundo precisa trabalhar com mais carinho os temas da proximidade e do cuidado. É só olhar para a forma serena e coerente como Jesus agia e tratava as pessoas que o abordavam e fazer um caminho de paz. Mas precisa ser caminho sem ódio, sem vingança e atitudes desequilibradas e agressivas. O mundo não pode perder sua capacidade de construir a esperança e vida saudável para todos.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba