Com pedreiro, marceneiro, pintor, as pequenas reformas
Com pedreiro, marceneiro, pintor, as pequenas reformas tornam-se grandes sofrimentos. Aquela ocorria aos fins de semana, era um puxadinho. Assentava a laje, era rebocada e, aos poucos, a obra ia caminhando para receber a pintura. Achar um pedreiro é como acertar uma boa faxineira, ou uma passadeira que sabe passar um colarinho ou uma cozinheira que acerta na dose do alho e da cebola. A prestação de serviços é o setor que mais cresce e requer trabalho especializado. O mercado é exigente na cobrança, mas há setores que a reposição da mão de obra não ocorre com a mesma velocidade que a demanda. Isso sem falar nos modismos. Há, portanto, determinadas profissões de difícil reposição e quando precisamos deles a dor de cabeça é desproporcional. Se a obra é grande, a disputa é de mercado. Se for um puxadinho, um assentar de porta, uma trinca na parede do banheiro ou reformar o sofá, ou as cadeiras da sala, assentar um guarda-roupa novo, ou o jogo da cozinha que precisa de reforma, achar um profissional pontual e barato é como acertar a previsão do tempo. Você pode encontrar vários pedreiros pendurados nos andaimes mexendo com as mulheres que passam. A mulher – não é uma condenação, é fato – que passar por uma construção civil e não ouvir assobios pode acender a luz amarela porque a aparência dela está comprometida com a feiura. Eles ficam lá assentando objetos sobre objetos, até formarem aquele quebra- cabeça chamada construção. Quando se precisa deles, seja para raspar uma parede, arrancar uns tacos, derrubar uma parede ampliando qualquer espaço, pode chorar. Chore sem dó porque o sofrimento será certo e de nada adiantará o seu choro, tendo que meter a mão no bolso. Depois você saberá o que é melhor, tê-lo encontrado ou não ter tido a necessidade de fazer a pequena reforma. Chore sem resmungar, agradeça por eles existirem no varejo e prepare para o exercício da tolerância. Quando Evódio precisou reformar a sua casa, teve que pajear o seu pedreiro. Saía cedinho de casa para buscá-lo e, assim, o encontrava ao portão. Seu Emanuel, pelas manhãs, era outro homem, de cara lavada, cabelos penteados, o esperava sorridente. A rotina era essa e estava indo tudo direitinho. Viraram amigos. Emanuel, ao chegar à casa de Evódio, era uma pessoa silenciosa, de poucos olhares e de uma timidez constrangedora. Os diálogos eram breves e curtos, concluía o que tinha a dizer sem delongas... Assim era ele, até engolir a branquinha. Transformava-se, como se reinasse outra natureza dentro dele. Era como se ela alimentasse outra pessoa existente dentro dele que não se conheciam e não se encontravam. Quando sóbrio, ela não aparecia, mas, depois da manguaça, ela surgia absoluta. Ao levá-la à boca, já era outro. Ele era um pedreiro de qualidade, o que atrapalhava era a danada da cachaça. Mas como ele era muito bom, Evódio resolveu pajeá-lo.
(*) Professor