Quando escrevemos para um jornal, sentimo-nos gratificados quando percebemos nas opiniões dos outros colaboradores preocupações semelhantes às nossas. Isto aconteceu comigo em relação a um artigo do Doutor João Gilberto, expressando o seu desejo de que o combate às drogas fosse alvo de projetos dos candidatos aos cargos políticos ora pleiteados.
Observo que tal problema tem se avolumado numa proporção não antes imaginada, fazendo-se presente em todas as famílias, camadas sociais, bairros e cidades, deixando no seu rastro a devastação de uma guerra.
Num lar onde a droga entra pela janela, o sossego sai pela porta. Filhos queimam o seu presente. Roubam dos pais bens materiais e imateriais, como os sonhos e projetos de futuro. Tornam-se violentos para conseguir dinheiro. Vendem seus corpos. Envolvem-se em brigas e, na pior das hipóteses, morrem ou matam em consequência de disputas, dívidas, acertos de contas ou queima de arquivos.
As instituições tornam-se vulneráveis. Educadores não sabem como agir quando as drogas entram na escola. Equipamentos públicos tornam-se alvo dos vândalos. Serviços de saúde tentam consertar os estragos feitos nos corpos, mas faltam recursos técnicos para curar os estragos emocionais. Diante deste quadro, torna-se muito perigosa a rotina dos profissionais que têm de ir aonde o problema está, a qualquer hora do dia ou da noite, seja em residências, vias públicas ou pontos de vendas.
Dentre tais profissionais citamos os que trabalham num Samu. No nosso caso específico, foram dois atentados em menos de trinta dias. No primeiro, um tiro vindo do nada atravessou uma de nossas ambulâncias num atendimento supostamente tranquilo. No segundo, durante a madrugada, dois adolescentes entraram na ambulância enquanto um paciente era deixado numa Unidade de Pronto Atendimento. Mexeram nos equipamentos, acionaram sirenes de alarme e furaram os pneus e, na sequência, os profissionais passaram pela experiência de comparecer a uma Delegacia de Polícia para registrar uma queixa, no meio da noite, situação esta que nunca enfrentaram antes por motivos particulares.
As perguntas que não querem calar sã Como garantir a segurança de nossos profissionais? Há salário que pague os riscos de se trabalhar nas ruas? Se estes ataques prosseguirem e algum deles resultar em danos físicos – os morais nem discutimos aqui –, como isso poderá ser reparado?
Fica a sensação de que só podemos contar com a sorte e a proteção divina para voltarmos sãos e salvos para casa, todos os dias...