Que torcida é essa?

Domingo, eu vou ao Maracanã. Ops! Sábado, eu vou ao Uberabão, torcer pro time que sou fã... vou levar foguetes e bandeira. E não vai ser brincadeira. Ele vai ser campeão. (...) Não quero cadeira numerada. Vou ficar na arquibancada, pra sentir mais emoção! Brincadeiras e paródias à parte, é assim, com este espírito, que devem estar os torcedores – apaixonados torcedores – do Uberaba Sport.   Impossível não se apaixonar pela torcida colorada, seja ela organizada ou aquele torcedor da velha guarda, ainda com radinho, apoiando o time durante pouco mais de noventa minutos. Foi assim até agora neste campeonato, e acredito que assim será até o fim. Mesmo sob um calor de quase 40 graus, é impossível não se arrepiar com o coro e o choro dessa pequena nação vermelha e branca. No jogo contra o Ituiutaba, mesmo na derrota, senti inveja deles. Eu, na tribuna, acompanhando o jogo sentadinho em uma confortável cadeira, protegido da chuva que caia naquele dia, só observava, me admirava e me perguntava: que paixão é essa? Inconfundível, incondicional, inesquecível e, muitas vezes, irracional. Irracional, porque parece instintivo. Sem querer e sem saber porque, todos se pegam pulando, gritando, cantando. Torcendo.   De repente, senti meus olhos úmidos. Disfarçando, limpei logo aquela lágrima que insistia em cair e me entregar, me acusar de estar emocionado com um monte de marmanjos, gritando os nomes de outros onze marmanjos. Limpei, a emoção não se externou. Mas, nem por isso acabou. Ela ficou. Ficará para sempre. Já contra o Uberlândia, no grande clássico do Triângulo, foi demais. Dessa vez, optei por ficar na arquibancada, andando de lá pra cá e de cá pra lá. Vendo caras, olhos e bocas, vendo gente. Crianças, homens, idosos, mulheres, bebês... um mar vermelho. Aliás, um mar colorado, apaixonado, porém angustiado pelo gol que insistia em não sair. Depois de estrear com derrota, vencer uma fora de casa, tudo o que o torcedor queria era poder soltar o grito de gol aqui, no Uberabão. E, convenhamos, demorou, mas valeu a pena. Quando muitos já iam embora, acreditando que o jogo ficaria mesmo no zero a zero, eis que surge o camisa oito do time, Michel Cury, cansado, exausto, mas ainda com fôlego para driblar o adversário e chutar de bico – é, de bico mesmo! – para o gol. Quase sem ar, ele ainda correu, gritou e comemorou! Do lado de lá do posso, na arquibancada, era possível ver de tudo um pouco. Pais levantando os filhos por cima dos ombros; homens abraçando homens – todos suados, diga-se de passagem – casais de namorados se beijando; e eu, observando, me apaixonei de novo. Bem, o que quero dizer com isso é que, se depender da torcida, o USC já esta nas finais do Mineiro. Há muito tempo não havia essa reciprocidade. Há muito tempo, não se torcia por algo maior, e isso, acredito eu, é o que tem feito a diferença. Amanhã, prevejo, é hora de me apaixonar mais um pouco por eles, os titulares absolutos do USC, os torcedores.   Para quem pensa que é exagero o que estou dizendo, um recado. Danilo, ou São Danilo como preferem alguns, me revelou que contra o Villa Nova quase pediu para deixar o jogo, pois sentia muitas câimbras. Porém, quando olhava para a arquibancada e via nos olhos de cada um a esperança depositada nele e em seus companheiros, o ânimo nascia e renascia dentro dele, fazendo com que continuasse em campo. O nome disso? Vai saber... só sei que contagia. Não me tornei um torcedor fanático do USC, mas torcedor do torcedor. Torço por eles, pelas alegrias deles e, sem perceber, me pego torcendo pelo time deles.