Bebe água limpa. Eis o dito popular que ninguém ousa dizer
Bebe água limpa. Eis o dito popular que ninguém ousa dizer quando foi criado. O certo é que, nos mais diversos campos da vida, ele pode ser usado e continuará sendo. Muitos de hoje e das gerações futuras não saberão o que é chegar num poço e beber de suas águas limpas ou nelas nadar só porque ali se chegou primeiro.
Há córregos, ribeirões, e até rios que sempre têm suas águas limpas. Não é desses que estou falando porque chegando-se neles primeiro ou por último, pode-se enxergar até o fundo. Aí está o nosso rio Claro para confirmar esta verdade.
Recentemente passei por lugares onde nadei nos tempos de infância e, mesmo diante da mudança radical imposta pelo progresso, não pude deixar de reconstruir imagens e relembrar amigos. Deparei-me com a antiga chácara de Osório Adriano da Silva, cujo perímetro era delineado pelas ruas: Lambari, Bernardo Rossi, Cambuquira, Carangola e finalmente o Parque Bom Retiro. Na parte mais baixa do terreno existia a bomba de captação e recalque da água que servia as Casas Populares da Av. Fernando Costa. Os fartos caput fluminis a montante abasteciam os poços onde nadávamos.
Seu Osório, com jeito de quem foi um bom menino, recomendava: “olha, nadem aqui, mas deixem o meu gado em paz, combinado?” A mim, quase ao pé do ouvido ele aconselhou: “menino chegue sempre mais cedo e nade nas águas limpas”. Tenho nítido na lembrança o reflexo dos raios solares a incidir na água e me causando deslumbramento ótico. Roupa? Que roupa? Ora essa! E... tibum!!! A água limpa já era...
Tentei localizar ali sem o menor sucesso onde poderiam estar os nossos poços hoje soterrados. Olhei para um lado e vi a sede da Associação dos Criadores de Pássaros de Uberaba. Da outra banda um imponente hotel. De frente, prédios com dezenas de apartamentos acabam de ser construídos. Ruas asfaltadas (Jacutinga e Passa Quatro) cortam o local decretando que o passado jamais voltará. Concessionárias de veículos, garagens, empresa telefônica e lojas ocupam o outro lado da área. Onde existia a cocheira na R. Bernardo Rossi ainda está livre, mas o terreno emite a mensagem: aqui será construído um megaempreendimento. É aguardar...
Cada passo que eu dava em busca de algum dado remanescente, só encontrei uns poucos imóveis preservados, cujos donos do meu tempo já partiram... E a água limpa? Ah... essa, mesmo envolvido na saudade, guardei como lição e, aos do meu tempo que quiserem recordar, dou um conselh voltem logo aos seus lugares de origem, antes que seja tarde e nem água exista por lá...
(*) PRESIDENTE DO FÓRUM PERMANENTE DOS ARTICULISTAS DE UBERABA E REGIÃO. MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS DO TRIÂNGULO MINEIRO