Há mais ou menos dois meses um tema vem surgindo em minha mente para meu artigo...
Há mais ou menos dois meses um tema vem surgindo em minha mente para meu artigo da quinzena e hoje aproveito o Novembro Azul, para abordá-lo.
Tenho certeza que a maioria dos leitores assistiu uma notícia onde um médico gritava alto e bom som: “Eu quero sair daqui”. Assistindo a tal notícia, fiquei recordando dos muitos momentos de desespero que vivi ou assisti ao longo dos anos envolvendo meus colegas médicos e enfermeiros: falta de material, falta de medicamentos, demanda reprimida, falta de ambulância, falta de leito, falta de condições de trabalho, enfim...
Não foram poucas as vezes em que da minha sala de coordenação do Samu ouvi os médicos reguladores, na sala ao lado, lutarem desesperadamente por uma vaga para pessoas em situação crítica. De um lado a UPA precisava transferir o paciente e, do outro, a Central de Leitos do SUS (Fácil?) informando que não havia vaga.
Quantas vezes a ambulância UTI ficava “presa” com o doente ou esperando a maca que ele havia ocupado no transporte e nela necessitava permanecer por não haver nenhuma disponível no hospital e, de um terceiro lado, a população pressionando por não compreender a justificativa de que não havia ambulância disponível no momento em que ela solicitava.
Fico observando a felicidade das famílias quando um filho ingressa no curso de Medicina, mas estas não imaginam que – para aqueles que não se estabelecerem em confortáveis consultórios ou hospitais particulares de primeira linha – “comerão o pão que o diabo amassou com o rabo”...
E, em meio a estas reflexões, me fica a pergunta: quem cuida dos cuidadores? O que o sistema oferece para os médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde para proporcionar-lhes um mínimo de proteção contra o estresse, o desespero, o desamparo, a impotência?
E os lutos silenciados que engolimos porque nos ensinaram que “o profissional não pode se envolver”? Isso significa que devamos ter coração de pedra e fiquemos distantes da dor dos pacientes e seus familiares?
Todo esse contexto só faz acelerar processos de adoecimento que podem culminar até em mortes prematuras e, por isso, aqui fica o meu apelo aos leitores do sexo masculino e, em especial, aos que profissionalmente cuidam dos outros: senhores homens, aproveitem o Novembro Azul para cuidarem de si mesmos porque, infelizmente, o sistema que lhes adoece, em nada ou pouco poderá lhes ajudar, caso dele venham necessitar no futuro...
Vale a pena fazer uma parada para cuidar de sua saúde física e mental porque, como diz o ditad “O cemitério está cheio de gente insubstituível”...