Tudo estava calmo e tranquilo no saguão
Tudo estava calmo e tranquilo no saguão daquele aeroporto, com os passageiros realizando o check-in e entregando suas bagagens para ser despachadas. Não havia atraso no voo e o avião já se encontrava no pátio, onde a equipe de apoio realizava os preparativos de praxe.
Quando restavam apenas dois passageiros na fila para ser atendidos, eis que surge apressadamente um terceiro, parecendo ser executivo de alguma empresa, e diz, quase bradando, ao rapaz atendente atrás do balcã - “Moço, como é que eu faço para viajar? Perdi minha carteira com todos os meus documentos pessoais, inclusive o dinheiro que eu tinha! Me ajude a resolver o meu problema! Preciso viajar!” E revirava a sua mala sem êxito.
“Acalme-se, meu senhor”, disse o rapaz. “Sem os seus documentos, basta ir a uma delegacia de polícia, lavrar um boletim de ocorrência e apresentá-lo aqui”. O desesperado passageiro retrucou: - “Moço, eu não conheço a sua cidade e nem dinheiro para tomar um táxi eu tenho. Como é que eu faço?” Todos viram aquela situação e eu me senti atraído para saber dos fatos. Chamei o estranho homem do lado e, como se já o conhecesse, passei às suas mãos o dinheiro suficiente para ele ir à delegacia e voltar de táxi, com sobra para fazer um lanche durante as conexões.
Ao ver que o bem trajado homem chorava por se sentir apoiado, lembrei-me que certa vez um estranho cidadão ajudou um irmão meu numa rodoviária sem jamais tê-lo visto antes.
Num lance o ansioso passageiro foi e voltou da delegacia com o B.O. e resolveu o seu problema. Impressionado com o que lhe ocorreu, indagou-me o porquê da minha atitude sem conhecê-lo. Antes de vê-lo entrar no avião como último passageiro, pontuei-lhe: Ao ajudarmos o filho de alguém, Deus designa onde, quando e quem irá ajudar o nosso filho. Ele concordou e nada disse, mas entendi o seu silêncio.
A correria privou aquele homem e a mim de alg eu saber quem era ele, e ele saber quem era eu.
(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro