No último dia 12, terça-feira, a Folha de São Paulo trouxe um comentário sobre o comportamento dos garotinhos de hoje. Uma senhora, eufórica, declara que seu filho de apenas 3 anos de idade, manda nela, no pai e no irmão de 11 anos. Certamente, acha aquele tampinha um gênio.
Compete aos psicólogos e aos pedagogos dar a resposta científica ao fenômeno dessa evolução etária. Mesmo assim, ouso perguntar: Os garotinhos de hoje são mais inteligentes ou tiveram maiores oportunidades? Será que nasceram com um novo chip incrustado em algum desvão do cérebro? Fantasia. Em todos os tempos houve crianças superinteligentes. Outra coisa, dar respostas malcriadas não revela inteligência. Pode revelar má criação, nada mais do que isso. Não estou acusando os pais. Estou responsabilizando a influência do meio social e cultural, principalmente os recursos tecnológicos que rolam gratuitamente nas mãos das crianças.
Sempre houve crianças gênios. Dom Pedro II, aos 14 anos, falava fluentemente quatro idiomas. Mozart, aos 5 anos, compunha sonatas. Pascal, aos 12 anos, solucionou o famoso teorema de Pitágoras.
Hoje, as crianças de dois anos já estão com os olhos fixos na televisão. Aos cinco, ganham joguinhos eletrônicos. Aos sete, ganham um computador. No “Playstation”, quando não conseguimos vencê-los é porque somos burros. Assim vão criando a imagem de pequenos gênios e passam a olhar-nos de cima para baixo. Frente à máquina são uns gênios, mas não sabem interpretar uma leitura, sua escrita pouco difere dos hieróglifos e tomam bomba nos ditados mais elementares.
Talvez esteja errado, mas, quando crianças, éramos mais criativos. Quando pobres, fazíamos nossos próprios brinquedos. Fazíamos nossos piões, nossos papagaios. Com talos de buriti fazíamos aviões, usando ampolas usadas como naceles. Fazíamos arapucas que eram verdadeiras obras de arte e estilingues de causar inveja. Éramos criativos. Não existiam crianças correndo atrás de psicólogos. Essa fixação em joguinhos eletrônicos não alteraria a comunicação entre as próprias crianças? Reparem, elas se acomodam em nossas salas. Fixam os olhos naquelas maquinazinhas e... desaparecem entre outros mundos.
E o mais importante, quando éramos crianças, não dávamos ordem aos mais velhos. Tomávamos a bênção dos pais, dos avós, dos tios e dos padrinhos. Aprendíamos a rezar, à noite, com nossa mãe. Respeitávamos os mais velhos e não os chamávamos de burros. Gostávamos de ler histórias, tínhamos nossos heróis e colecionávamos “gibis”.
Éramos felizes e não sabíamos.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo