Naquele tempo distante do curso primário havia aulas de latim, ali no Colégio Marista – e aquilo era levado a sério
Naquele tempo distante do curso primário havia aulas de latim, ali no Colégio Marista – e aquilo era levado a sério, podia até dar bomba. Pois é, os irmãos Maristas eram muitos e cuidadosos, em suas aulas davam exemplos que serviram pelos anos afora como formação cultural da nossa juventude. Hoje, pombas, é dedo no computador e olho no decote da Amy não sei o que, cantando o que ninguém traduz.
Vamos lá atrás. O título desta crônica é traduzid as rãs pediram um rei! Júpiter, que era o rei absoluto, achou aquilo uma besteira, mas o barulho noturno da saparia lhe encheu o saco, e ele resolveu atendê-la. Pegou num canto do Olimpo (este nem vou explicar...) um pedaço grande de pau e mandou-o de finca no centro da lagoa. Foi um barulhão, a saparia assustada mergulhou fundo ou escondeu-se pela beirada – fez um lindo silêncio.
Acontece que o rei-pau não se mexia, e as rãs foram se chegando e perdendo a cerimônia. Começaram coaxando, algumas mais valentes subiram pelo rei-pau, algumas mais desrespeitosas até começaram a exonerar ali seus intestinos – exonerar aí, Dino, é cagar no pau. Virou esculhambação, reclamaram de seu Zeus que mandava um rei que nada valia ou fazia, e bem quieto até parecia gostar da saparia.
No clamor popular seu deus encheu o saco, pegou uma cegonha gigante e jogou-a no lago – um novo rei. O mesmo susto e correria inicial, mas as rãs já não tinham mais respeito, foram se aproximando... e a cegonha bem feliz comendo as que mais chegavam. Um horror, a saparia caiu na folha, se não por respeito, pelo menos morrendo de medo do novo rei. Pediram a Júpiter sua substituição, e o deus falou simples: cambada de safados, vocês me esculhambaram com o antigo e pacífico rei, agora aguenta, negada! Pois é, meu bom leitor, eu poderia ficar por aqui, apenas na literatura clássica.
Entretanto, pensei como sempre no meu Brasil, que teve um rei alegre, feliz e aéreo, e agora está recebendo uma cegonha desconhecida. Cuidado, minha gente – a dona Dilma não tem cara de pau de lagoa suja de gente mal acostumada. O primeiro lance passou, o aumento dos nossos legisladores foi afrontoso e precoce. Cuidado, vocês que vão chegando perto. Esta cegonha não me parece ter medo de saparia...
(*) médico e pecuarista