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Reflexões acerca da história local

Estimado leitor, atendendo alguns leitores que se manifestaram por e-mail, retomo o tema da história local. Penso que meu último artigo foi responsável.

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 14/03/2010 às 13:45Atualizado em 20/12/2022 às 07:36
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Estimado leitor, atendendo alguns leitores que se manifestaram por e-mail, retomo o tema da história local. Penso que meu último artigo foi responsável por essa curiosidade acerca do tema. Denominamos história local aquela que evidencia acontecimentos vividos em um espaço geográfico menor. Praticada há tempos com cuidado, zelo e até orgulho, a história local foi, mais tarde, desprezada pelos praticantes da história geral, principalmente no século XIX e na primeira metade do XX. A partir, porém, da metade desse século, a história local ressurgiu e adquiriu novo significado; na verdade, alguns chegam a afirmar que somente a história local pode ser autêntica e fundamentada.

Por muito tempo, pelo menos até o momento em que as ideias passaram a circular mais rapidamente e os homens a se deslocarem com mais frequência e rapidez (a revolução acarretada pelas ferrovias no século XIX pode servir de marco desse momento), o ponto de referência da maioria das pessoas era o espaço local, no campo ou na pequena cidade e nos seus arredores. Só para ilustrar, não faz muito tempo que moradores da zona rural ficavam até um ano sem sair de suas fazendas. Quando o faziam, era para comprar sal, por exemplo, uma vez que os outros produtos eram todos cultivados e/ou produzidos por eles.

Prevaleciam nesses ambientes os mesmos costumes locais, assim como idênticas práticas culturais, sociais e econômicas, a mesma área judiciária e administrativa e as mesmas crenças religiosas. A maior parte dos habitantes nunca ultrapassava as fronteiras de seu microespaço; seus filhos lá permaneciam; encontravam-se nas imediações um padre, um juiz, um senhor de terras, um tabelião e um mercado.

As primeiras tentativas mais sistematizadas de estudo da história local foram feitas por historiadores que compreenderam que uma tese ou interpretação, por mais engenhosa que fosse, necessitava basear-se em fatos precisos, os quais possuem dimensão espacial, bem como dimensão temporal. E os espaços menores permitem análises mais precisas, uma vez que há, neste tipo de estudo, uma redução da escala dos eventos investigados.

Em função dessa precisão nas assertivas historiográficas, a história local se debruçou sobre temas da história social, revisando-os de tal maneira que, agora, foi possível retratar e discutir acerca de situações que nunca haviam sido abordadas ou, pelo menos, não haviam sido tratadas como a importância que merecem. Personagens até então completamente desconhecidos têm sido trazidos à tona e suas vidas ganharam relevo.

Do ponto de vista da compreensão da vida humana, a história local amplia o leque de possibilidades, abre-se para novas explicações e rompe com o preestabelecido. Procura, ao contrário, incessantemente por novas representações que possam fazer um contraponto com versões já cristalizadas, que impedem uma nova leitura dos fatos.

No tocante às fontes historiográficas, uma completa mudança se instala. No lugar dos velhos e surrados documentos tradicionais, que só fazem perpetuar antigos olhares, opta-se por ouvir outras vozes. É nesse contexto que os anônimos se tornam parte integrante da história diária, contribuindo com seu peculiar testemunho para que a história local desfrute do seu atual prestígio.

(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM

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