Dia 4 fui assistir ao show “Encontro Marcado com Sá e Guarabyra, Flávio Venturini e 14 Bis”, um espetáculo que reuniu a maior concentração de cinquentões e sessentões por metro quadrado nos últimos tempos aqui, em Uberaba.
Ouvindo os relatos dos componentes dessas três bandas musicais, que pela quarta vez se reúnem formando uma quarta, “garrei” a cismar ou a matutar muitas coisas, como boa mineira que tento ser!
Como é bom ouvir as histórias que estimularam o processo criativo daqueles letristas e musicistas e composições que se tornaram sucesso ao longo das últimas cinco décadas!
“Te amo espanhola” nasceu numa madrugada fria de São Paulo. A inspiração veio em meio a um porre, resultante do arrependimento de Guarabyra por ter deixado uma grande amiga no Rio e que poderia ou deveria ter sido um grande amor. Pena que só descobriu isso quando se mudou de cidade e a declaração veio tardiamente!
“Todo azul do mar” veio da comparação de Flávio Venturini tentando descrever o encantamento sentido por um par de olhos que exerceram sobre ele a mesma atração que o mar, quando visto pela primeira vez, num pôr de Sol no Rio, chegando de Minas, recomendado por Milton Nascimento...
“Caçador de mim” surgiu no período conturbado entre o primeiro e o segundo casamento de Sá, com todas as inquietações de quem vive esse tipo de experiência e que, segundo ele, não experimenta só quem nunca se separou...
É por essas e outras que suas músicas nos encantaram tanto, mesmo sem sabermos suas inspirações. Quem nunca se questionou sobre uma grande amizade que poderia ter sido um amor? Quem nunca mergulhou e se perdeu na imensidão de um par de olhos verdes ou azuis? Quem nunca se descobriu caçador diante das incertezas de um término de relacionamento?
O show se iniciou com “Amigo é coisa pra se guardar” e foi concluído por “Linda Juventude” e, como estávamos entre amigos que a vida juntou há mais de quatro décadas, tivemos que esticar a noite para aquietarmos as emoções e comemorar o aniversário do Chico, um de nossos camaradas.
Na mesa de uma cervejaria ficamos conversando sobre o que eles não contaram. Como será que tem sido manter esse casamento artístico durante tanto tempo? Será que possuem a mesma e harmoniosa afinidade na convivência como a que demostram no palco? O que será que foi a vida amorosa de cada um deles ou quantas vezes se casou cada um? Como será que foi o processo de amadurecimento desse grupo de grisalhos, dentre os quais dois já passaram dos setenta?
E assim é o processo de criação de quem compõe ou escreve, não importando se uma poesia, uma canção, uma letra, um artigo ou um livro. Os fatos de cada dia vão gerando fios de ideias que tomam corpo e parecem criar vida própria, que querem sair de nossa cabeça e chegar até outras pessoas.
Assim nasceu o artigo de hoje! Aleluia!
Vera Lúcia Dias