Acordar de madrugada sem motivo ou sem necessidade traz pensamentos curiosos. Alguns ficam vagando pelas necessidades e programas do dia ou dos dias futuros – uma chatura. Alguma outra e rara vez o pensamento fica desocupado e vagabundo, e por isto mesmo mais divertido ou interessante.
Aconteceu assim esta manhã, cheia dos jornais e TVs, dos sofrimentos humanos – enchentes, desastres de toda sorte, terrorismo, crise de dinheiro, vergonha e honestidade, o desamor, a esperança contrariada ou perdida. Soltei o cabresto e deixei galopar o pensamento. Libertado, ele foi mais longe, porque sem rédeas ele escolhe melhor o caminho.
Desta vez, talvez pelas influências da vida atual, ele entrou pela estrada das relações humanas – o ponto crítico e amado pelos psicólogos e literatura de auto-ajuda. No vôo rápido e insuperável da mente vim lá de longe, numa pré-história animal, onde por semelhança o ser humano só tinha a preocupação de alimentar-se e reproduzir-se. Dois prazeres, é verdade, que ultrapassaram a pré-história e até hoje ainda estão vivos, e para muitos continuam a ser a essência da vida.
O pensamento viaja, entra na era a que chamamos civilizada, ou seja, das relações humanas. Por evolução ou por necessidade nós passamos a viver associados, o ser humano deixa de ser um. Aí ele precisa do outro, dos outros, da sociedade que passa a ser povo e país. Nesta hora atual os eremitas de corpo ou pensamento não mais existem, é necessário entender e compreender a figura deste ser a quem chamamos “o próximo”.
Este pensamento obrigatório tem raízes históricas, sociais e religiosas. Entendê-lo deveria ser fácil, um caminho para a felicidade de nós todos. Porém, foi aí que o cavalo do meu pensamento empacou e refugou. Pensando por mim, ele afirmou uma verdade terrível: nós podemos ser teóricos, até mesmo desejar e querer esta circunstância fundamental da palavra AMOR, alicerce essencial das relações humanas.
Entretanto, e com o sofrimento da prática, ele existe? Entre civilizações diversas, religiões, países, povos e por aí abaixo – nós mesmos – ele é praticado? Penso, logo existo... e nós assistimos e participamos diariamente dos fracassos amorosos. É preciso até bater no peito, e perguntar pela nossa responsabilidade. E por aí é morro acima, no lar, em casa e família, na sociedade com seus problemas e carências, no Estado, no meu país e no nosso mundo. Estou legal e ligado, ou estou apenas fingindo e fugindo? Olha aí, companheiro, cada um sabe da sua vida.
Pensei, na hora em que meu cavalo – pensamento – estacou: Será que eu estou ajudando alguém, ou será que ainda sou aquele homem das cavernas, egoísta, utilitário, irresponsável? Qual é o Deus da minha vida e felicidade? Dinheiro? Fama? Sexo e farras de toda espécie?... Bem, ao final tudo passará, a vida é muito curta, acaba logo ali adiante, mais rápido e depressa do que desejamos. Quem sabe, talvez, aquele Deus verdadeiro e soberano está lhe dando algum tempo para exercer a lei fundamental das relações humanas: fazer alguém feliz?!...
(*) médico e pecuarista