Interrompemos, no artigo anterior, o relato de um Espírito (juiz Peckam), narrando o momento em que, se afogando, recebia a ajuda de amigos e parentes (“Primeiro caso” de A Crise da Morte, Ernesto Bozzano):
“Na ocasião em que mergulhei no mar, tendo nos braços minha mulher, apareceram-me meu pai e minha mãe e foi esta quem me tirou da água, mostrando uma energia cuja natureza só agora compreendo. Não me lembro de ter sofrido. Quando imergi nas águas, não experimentei sensação alguma de medo, nem mesmo de frio, ou de asfixia. Não me recordo de ter ouvido o barulho das ondas a se quebrarem sobre as nossas cabeças. Desprendi-me do corpo quase sem me aperceber disso e, abraçado sempre à minha mulher, segui minha mãe, que viera para nos acolher e guiar. / O primeiro sentimento penoso só me assaltou quando dirigi o pensamento para o meu caro irmão; porém, minha mãe, percebendo-me a inquietação, logo ponderou: ‘Teu irmão também não tardará a estar conosco.’ A partir desse instante, todo sentimento penoso desapareceu de meu espírito. Pensava na cena dramática que acabara de viver, unicamente com o fito de levar socorro aos meus companheiros de desgraça. Logo, entretanto, vi que estavam salvos das águas, do mesmo modo por que eu o fora. Todos os objetos me pareciam tão reais à volta de mim que, se não fosse a presença de tantas pessoas que sabia mortas, teria corrido para junto dos náufragos. / Quis informar-te de tudo isto, a fim de que possas mandar uma palavra de consolação aos que imaginam que os que lhes são caros e que desapareceram comigo sofreram agonias terríveis, ao se verem presas da morte. Não há palavras que te possam descrever a felicidade que experimentei, quando vi que vinham ao meu encontro ora uma, ora outra das pessoas a quem mais amei na Terra e que todas acudiam a me dar as boas-vindas nas esferas dos imortais. Não tendo estado enfermo e não tendo sofrido, fácil me foi adaptar-me imediatamente às novas condições de existência...”
Lamentável não podermos acrescentar as explicações dadas por Bozzano, sobre a mensagem acima, entretanto, é preciso considerar que todo o socorro que o juiz Peckam, sua mulher e companheiros receberam, decorreu da Lei do Merecimento; quer dizer que todos alimentavam boas intenções enquanto encarnados, úteis à Humanidade, e cientes da necessidade do combate, em si mesmos, do orgulho e do egoísmo.
(*) clínico geral e psiquiatra