As pessoas têm marcas instintivas naturais no profundo de seu ser
As pessoas têm marcas instintivas naturais no profundo de seu ser que, muitas vezes, se revelam em expressões de fé, no contexto de um tipo de espiritualidade. Em determinadas realidades, e coletivamente, o povo manifesta essa fé naquilo que chamamos de “religiosidade popular”. A partir dessa expressão popular, entendemos as Romarias nos diversos Santuários em várias partes do mundo.
Existe um reconhecimento coletivo de esperança em Deus. No campo de visibilidade, multidões acorrem aos Santos como forma de estar tocando em Deus. É o que acontece na Festa da Assunção de Maria, com o título de Nossa Senhora da Abadia. Os Santuários marianos são fonte de expressão da religiosidade popular, onde acontecem as peregrinações em busca das bênçãos de Deus.
São formas diversas de as pessoas expressarem sua fé, e isto deve ser respeitado pela Igreja. Nas palavras do Papa Francisco, a religiosidade popular é uma grande riqueza para a vida da Igreja. Ele fala ser uma excelente oportunidade de evangelização. Há aí grande sensibilidade das pessoas para acolher a Palavra de Deus. Existe também uma carência afetiva espiritual, que deve ser preenchida.
Na religiosidade popular dos nossos tempos, enxergamos claramente a busca de eternidade. É como no Antigo Testamento, quando o povo ia ao templo para reverenciar a Arca da Aliança, lugar da manifestação divina e símbolo da proximidade e do encontro com Deus. Os romeiros, peregrinos e devotos que vão para os Santuários Marianos esperam encontrar o aconchego paterno de Deus.
No Apocalipse o autor fala, na sua visão, de dois sinais que apareceram no céu: uma mulher grávida para dar à luz e um dragão com a intenção de matar o filho que daí nascesse. A mulher pode representar Maria, a busca de segurança. O dragão são as sombras na vida do povo, as inseguranças, incertezas e desânimos. O mundo do Deus distante faz o povo agarrar no que é capaz de confortá-lo.
Diante do cenário cultural que envolve tantas mortes violentas e irresponsáveis do mundo moderna, a pessoa que acredita nas realidades divinas precisa entender que em Jesus Cristo a vida venceu a morte. Isso está evidente na religiosidade popular, porque fazer encontro com Deus é ser capaz de ter um olhar para o futuro, consciente do sentido e da beleza da vida de todo ser humano.
(*) Arcebispo de Uberaba