Li numa revista os encantamentos de uma senhora relativos a uma cadelinha. Dizia que seus olhos...
Li numa revista os encantamentos de uma senhora relativos a uma cadelinha. Dizia que seus olhos se umedeciam ao abraçá-la comovida. Era um amor de cachorrinha. Era toda branca, toda peludinha, com os pelinhos cobrindo seus olhos. Ela não os via, mas sabia que ela a olhava com amor e carinho. Não dispensa um colo e, além da ração especial, adorava trufas de nozes. Afirmou, radiante, que era uma cadelinha superinteligente. Conversa com ela, diz o que ela tem que fazer e o bichinho entende tudo. Ela acha que, por sorte, encontrou no seu modo de agir, uma “faixa” mental de comunicação com cães. É por ali que se entendiam.
Depois de tantas loas, veio o conselh “Minha cara leitora, se você vive sozinha naquela sua casa, é perigoso para sua saúde mental. Você precisa de uma companhia para não viver na solidão. Alguma coisa que lhe demonstre carinho e compreensão. Se você quiser, posso arranjar, macho ou fêmea, como quiser, um animalzinho desses para você. A solidão leva à depressão”.
Aquela senhora, em parte, tem razão. Às vezes a solidão pesa, o que me faz lembrar de Dolores Duran: “Ai, a solidão vai acabar comigo. Ai, eu não sei o que faço e o que digo. Eu quero qualquer coisa verdadeira, um olhar, uma saudade, uma lágrima, um amigo. Ai, a solidão vai acabar comigo.” A dor de Dolores me faz lembrar de outro poeta, Guilherme de Brit “Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com minha dor”.
Se, às vezes, a solidão ataca, não é uma cadelinha ou um gatinho que vai curar ninguém. O problema é o sentido que se dá à própria vida. O remédio não está fora de mim. Está dentro de mim. Depende de minhas convicções e do rumo que empresto ao meu viver. Há um dito de Santo Agostinho que esclarece bem: “Estáveis dentro de mim, e eu Vos procurava fora”.
Há solidões doentias provocadas por distorções psíquicas. Outras solidões são o resultado de não saber que rumo dar à própria vida. Esse problema de solidão não poderá nunca será resolvido pela presença de uma cadelinha nem de um gatinho, mesmo que seja da Pérsia. O problema é interior. A solução é interior. Está dentro e não fora. Se não dermos um sentido à nossa vida, se não acharmos uma resposta para nossas interrogações interiores, continuaremos comidos pela tristeza e pelo desengano.
Se você descobrir que é útil para alguma coisa. Se você descobrir que em algum lugar qualquer existe alguém esperando por você, por sua ajuda, por sua palavra, por seu carinho, por um gesto de amor, você não vai precisar de nenhuma cadelinha para “te” arrancar da solidão.