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Rockuberaba.blogspot.com

Estimado leitor, Maurice Halbwachs, sociólogo que estudou as diversas facetas da memória coletiva

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 08/08/2010 às 14:33Atualizado em 20/12/2022 às 04:58
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Estimado leitor, Maurice Halbwachs, sociólogo que estudou as diversas facetas da memória coletiva, afirmava que preservar a memória é fundamental para a compreensão da formação da identidade de um determinado grupo, pois “o grupo, no momento em que considera o seu passado, sente acertadamente que permaneceu o mesmo e toma consciência de sua identidade através do tempo”.

Entretanto, essas lembranças precisam ser estimuladas por situações do presente. As lembranças atuais funcionam como uma espécie de desencadeador das experiências do passado, que, assim, são reconstruídas, levando em conta as relações entre indivíduos e sociedade.

Diante disso, gostaria de convidar o leitor a conhecer o blog rockuberaba.blogspot.com, idealizado por Alexandre Tito, amigo de velha data e músico dos mais engajados. Utilizando os recursos do diário eletrônico, Alexandre conta a história de diversas bandas de rock que Uberaba já teve (algumas ainda estão em plena atividade), identificando seus membros, a data de fundação, o estilo musical, o período de atuação e outras várias informações. No meio de tudo isso, o autor encontra espaço para narrar diversas histórias que marcaram Uberaba nos anos 90. Identifico nas histórias disponíveis nesse blog a memória coletiva de toda uma geração de pessoas, pois nelas estão presentes o espírito de uma época.

Por ser presença constante nos movimentos musicais uberabenses no fim dos anos 80 e início dos 90, o autor sempre esteve por perto dos fatos narrados, dando ao seu relato o tom de confiabilidade necessário para não sermos mergulhados na fantasia.

Quando se refere a momentos em que não estava presente, dá oportunidade para que outros atores deem seu testemunho. Assim, toma o devido cuidado para não agir como aquele que detém o monopólio da verdade. Isso fica claro nos momentos em que as pessoas são convidadas a relatarem suas lembranças acerca do fato em questão.

Desse embate dialético de lembranças, situação estimulada por ser o blog uma forma de comunicação que favorece a discussão (já que as pessoas têm a possibilidade de constantemente debaterem seus pontos de vista), surgem novas versões para o mesmo fato, ampliando o espectro de compreensão das situações vividas.

Ao contrário do que as pessoas pensam, em se tratando da construção da identidade de um grupo através da memória coletiva, o excesso de coerência prejudica a restauração do passado. Se as pessoas, ao estabelecerem os contornos que demarcam a vida coletiva, não o fazem isoladas umas das outras, não há por que um mesmo episódio suscitar apenas uma linha de interpretação.

Outra característica marcante da vivência coletiva dos grupos são as emoções trazidas quando essas lembranças retornam à mente daqueles que as presenciaram. À medida que as memórias são atualizadas, os sentimentos que elas produziram também ganham uma nova atualização, promovendo uma espécie de catarse coletiva. Esses novos sentimentos “re-significam” velhos acontecimentos, investindo-os de uma nova carga afetiva. É por isso que relembrar os fatos do passado nos faz tão bem. Como diria o poeta, recordar é viver.

Bom domingo a todos.

(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM mailtmozart.lacerda@uol.com.br

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