Certo autor, depois de muito sonhar e ralar para escrever um livro, finalmente teve o seu trabalho impresso. A data para o lançamento da obra estava definida e o escritor, extremamente estimulado, acertava os detalhes para que tudo saísse nos trinques. Corria de cima a baixo convidando as pessoas e, com o auxílio da mídia, mostrou ao mundo o seu substancioso trabalho.
Título do livr “Como fazer para superar a si mesmo”. Ao contrário do que se vê na maioria dos livros de autoajuda, aquele autor sempre falava na primeira pessoa do singular, ou seja, não mandava fazer, mas mostrava como fez para superar a si mesmo. As técnicas que usou para vencer a indecisão, o medo, etc. eram bem mostradas no livro e assimilá-las, segundo ele, não foi tarefa fácil, porém plenamente possível.
Gráfica com suas bancadas contendo dois mil livros concluídos e cheirando a tinta. Era a véspera do lançamento e o autor de “Como fazer para superar a si mesmo” não se continha de tanta felicidade. Noite longa, sono entrecortado e sonhos confusos, como se a faculdade de intuir estivesse denunciando que algo de traumático fosse acontecer ao escritor. E aconteceu.
Quando a gráfica foi aberta no dia seguinte, eis a surpresa: ladrões arrombaram o estabelecimento e levaram toda a edição do livro a ser lançado. Ato contínuo, o gerente, com muito jeito e pegando leve, comunicou ao autor da obra sobre o sumiço dos livros. Esperando uma reação extrema do escritor, o gerente neófito em ver roubo de livros tentou se justificar, mas acabou só se explicando sem convencer.
Promessa de reimpressão gratuita da obra, designação de outra data para lançamento, lavratura de B.O, desmonte da estrutura para aquele dia, etc., tudo foi tratado pacificamente entre as partes prejudicadas.
Contudo, nada marcou tanto e ficou tão patente quanto ao que expressou aquele escritor, diante do episódio do qual ele foi o alvo maior: “Ah se as bibliotecas fossem arrombadas e os ladrões levassem os livros! Eu me daria por extremamente feliz, se o meu ladrão fizesse uso de uma única frase que escrevi e conseguisse nunca mais roubar ”.