Já utilizei esse mesmo espaço para tratar do assunto. Mas, no entanto, sempre acontece uma coisa que faz o sujeito repensar, refletir e, então, aprender novas coisas, descobrir.
Estou falando, caro leitor, dessa relação de amor e paixão, ódio e loucura e que jamais será entendida, entre o torcedor e o seu clube do coração ou, em muitos casos, entre torcedor e o ídolo.
No dicionário, a definição diz que torcer começa quando você simpatiza com um clube. Assim, o sujeito passa a acompanhar todas as ações do clube/ídolo sempre com o desejo de bom êxito. Torcer é desejar a vitória de uma equipe, mas, não só desejar e sim vibrar, incentivar e entoar gritos a essa mesma equipe.
Torcer é desejar que algo de bom (ou ruim) aconteça com alguém ou algo. No entanto, essa definição é meio esquisita. Torcer para que algo ruim aconteça a alguém é um sentimento muito pequeno. Mas é aceitável – e nós sabemos disso – torcer para que o jogador do outro lado erre aquele pênalti e nos ajude a conquistar a vitória. Estamos falando de esportes, afinal. E, no esporte, para seu time sair vencedor, o outro precisa perder. É natural. Na vida o conceito é outro.
Que fique claro que torcer não é isentar o time/ídolo de críticas, de cobranças. Não é isso. Mas também é necessário que o cara que se dispõe a torcer, enxergue e respeite os limites de cada um. Saber torcer é entender que todos – inclusive nossos clubes e ídolos – estão sujeitos a falhas. Afinal, a graça é essa. Não teria graça, por exemplo, se o nosso time apenas vencesse. A vitória só tem o sabor especial que tem, porque já conhecemos o sabor amargo da derrota. Torcer é não querer perder, mas aceitar que a derrota faz parte do jogo. A magia da coisa esta aí. Parece complexo, e entender essa relação é algo complicado, mas urgente.
Digo isso por conta da incúria que alguns que se dizem torcedores têm com seus clubes e ídolos. É uma estultice do tamanho do saudoso Maracanã querer agredir um jogador porque ele não venceu uma partida. Para mim, esses réprobos não deveriam sequer ter o direito de vestir a camisa sagrada de qualquer time de futebol. Deveriam, isso sim, ficar longe dos estádios, lugares onde só as pessoas de bem pudessem entrar.
Ronaldo, por exemplo, não merecia jamais passar pelo que passou. Ninguém merece. Mas ele, por ser o Ronaldo e ter feito o que fez pelo nosso país em termos de conquistas dentro de campo, não precisava ouvir de meia dúzia – que não são torcedores do Corinthians – que jogava por dinheiro.
Já nosso centro-avante Colorado, o Cadu, quase foi alijado por parte da torcida porque não vivia um bom momento. A cobrança é natural, necessária e até faz parte dessa relação clube x torcedor, mas é preciso saber que existem limites. Se um atacante não está fazendo gols ou um goleiro toma um frango, acusá-los de “não querer” é de uma irresponsabilidade quase assassina. Ronaldo parou e sempre vai ser ídolo. Já Cadu, esse está, aos poucos, recuperando-se e dando a volta por cima. Torcedores de ambos choraram com Ronaldo no dia de sua despedida e foram às lágrimas com Cadu, ao vê-lo chorar depois do golaço marcado diante do Santa Helena. Foi o gol do desabafo e a prova de que ele vinha se esforçando, querendo e lutando!
Sou daqueles que xingam, como já xinguei o Adriano – do meu querido Flamengo. Mas sou contra aqueles que só xingam e não apóiam.
Por isso, quando percebo a formação de ondas concêntricas sobre determinado jogador, fico me perguntando se as pessoas ainda sabem torcer. Chego, pois, à triste conclusão de que torcer virou sinônimo de cobrar e isso está muito errado.
