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Saber usar o dinheiro

Nesta semana reiniciam-se os testes pré-temporada na F-1. A maioria das equipes estará na Espanha, exceto a Toyota, a Ferrari e a BMW, que preferiam o Bahrein...

Reginaldo Baleia Leite
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 14:17
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Nesta semana reiniciam-se os testes pré-temporada na F-1. A maioria das equipes estará na Espanha, exceto a Toyota, a Ferrari e a BMW, que preferiam o Bahrein. A BMW me chama a atenção porque, na pré- temporada passada, teve péssimo desempenho. Foi um banho de água fria no QG dos alemães. Mas, no decorrer da temporada, a turma dos chucrutes se achou. E, descaradamente, a equipe diz que essa reviravolta se deve ao engenheiro Willy Rampf, que encarou o projeto depois da perda de seu braço-direito no projeto do carro de 2008, e ao piloto Nick Heidfeld.   Nick quase sempre foi superado por Kubica, mas quem sabe passar as informações para os engenheiros com precisão e, ainda, como corrigir eventuais erros é o alemão, pois o negócio do piloto polonês é pegar o carro   já acertado e adaptar ao seu jeito de tocar. Para o desenvolvimento do carro, isso é péssimo, mas quem chegou a liderar o campeonato foi o polonês, e não o alemão. No final das contas, um completa o outro, para a alegria dos alemães.   O resultado final é a soma dos esforços de ambos, mais o staff técnico. O grande lance da equipe alemã foi a saída de Jorg Zander para a equipe Honda, que, com um orçamento mais rico, pode oferecer ao alemão mais chances de experimentar suas ideias, pois a pressão na BMW era grande por parte de Mario Theissen.   E com a saída do engenheiro alemão, a dupla Rampf e Heidfeld entrou em entendimento e descobriu que o grande problema do F1.08 não era de aerodinâmica ou qualquer outro erro de projeto. O grande lance do modelo é que ele era muito sensível ao lastro, pois, dependendo da pista e de como era aplicado o lastro, tinha um comportamento distinto. Ao descobrirem o resultado dessa equação, o carro alemão tornou-se outro, passando de mico da pré-temporada para um carro constante e que sempre estava nos pontos quando não era um pódio.   O mais interessante de toda essa história é que a BMW tinha um orçamento infinitamente menor que os da Toyota, Ferrari, McLaren e Honda. Como você acha que os japas da Honda encaram um situação como essa? As duas equipes trilharam um caminho parecido. Entraram numa equipe já com experiência, como fornecedores de motores e, estando lá dentro dos boxes, foram aprendendo como administrar essa equipe, vendo os erros e os acertos. Depois de ver o cotidiano de uma equipe da F-1 resolveram comprar uma equipe. Os alemães fizeram seu estágio na Williams e, depois, compraram a Sauber. Os japoneses se associaram a Bar e acabaram por comprá-la. Pela lógica a Honda deveria dar-se melhor que os alemães, pois os japas estavam comprando uma equipe que já conheciam e, assim, certamente sabiam o que era bom e o que era ruim. Como Bar, a equipe foi mais eficiente do que na era Honda e isso com um abismo em termos de orçamento, uma vez que a Honda, assim como a Toyota, nunca teve dó do dinheiro investido. As duas sempre se sobressaíram entre os maiores orçamentos do circo. Mas a lógica nem sempre prevalece e a BMW, que comprou uma equipe suíça e que lá nos primórdios já tivera ligações com a arqui-rival Mercedes Bens, deu-se melhor que a Honda, tendo um orçamento menor.   Os alemães compraram a equipe e colocaram seu staff técnico, iniciando, assim, a formação de uma nova equipe, sem os vícios da era Sauber. Trouxe gente da Williams e de outras grandes equipes para compor seu staff técnico, como também perdeu gente desse staff. Imagine você, dono de um empreendimento desse vulto, gastar e gastar e não ver resultados e, ao mesmo tempo, ver que o rival gastou menos e foi muito mais eficiente. Isso é um tiro na consciência de qualquer administrador. Contratar gente errada, investir mal os recursos... imagine isso na mente de um empresário japonês, que é cheio de regras e tabus e que, muitas vezes, se sente como um ser mais racional na administração de conglomerado. Isso é totalmente contra a cultura empresarial deles. Deve ser por isso que a Subaru abandonou os ralis, tendo a companhia da Suzuki e da Mitsubishi. E a Kawasaki deixou a moto GP.   Mas, seguindo a lógica nipônica, como explicar a atitude da equipe Toyota, que não se associou a ninguém e trilhou sua entrada na F-1 da maneira mais complicada e cara? Desde 2002, eles sempre começaram o ano como uma promessa, mas depois não desencantaram. A Toyota sempre foi uma grande vencedora nas pistas e em todas as disputas conseguiu ser campeã, mas nunca no primeiro ano. Porém, depois de aprender a música conseguiu ser o maestro da competição. Foi assim no Mundial de Rali, nas corridas de longa duração, na Indy e em quase tudo que disputou. Só não chegou na ponta na F-1 e, se continuar como está, nem vai chegar. Seu corpo técnico, assim como o da finada Honda, é composto por gente indicada, na sua maioria, e não pelas suas qualificações. Esse é o mal de onde corre muito dinheiro e o dono não está perto para administrar.   Uma ótima semana a todos!

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