Um dia desses um amigo me perguntou: onde é que você arranja tanto assunto pra escrever? Fiquei meio sem jeito, respondi que era por aqui e por ali, assunto sempre existe, até a pergunta dele podia ser assunto e útil. Quase deu desastre: passados três dias venho escrever e vem aquele branc a pergunta do bandido apagou meu quadro negro.
Escrever sobre o que, coisa que pudesse ser interessante, informação, curiosidade... fiquei igual o Manezinho Rodrigues, meu parente analfabeto e sábio, a quem o Randolfo Borges atribuía o verso triste: “Já fiz minha viola cantar, da boca inté nas craveia... hoje não faço mais... porque meu sentido vareia!...” A simplicidade sábia do verso idoso me fez considerar coisas que ainda estão no meu arquivo do pensamento, ou seja, arriscar mais uma. Penso que vou fazer gosto e desgosto de muita gente, o que é prazer de qualquer cronista.
Começo pela minha convicção e luta: como o absoluto e ignorante, e como é sábia a simplicidade dos ignorantes... Pondo no prato da vida: aqueles que se julgam sábios e superiores vão aprofundando conhecimentos e ciência, abrindo véus sucessivos da sua ignorância... sem fim, paz ou prazer. Já os sábios verdadeiros são simples, vivem esta hora e momento, na paz tranquila e modesta encontram e vivem felicidade.
Divagando, conto da minha imaginação e conhecimento, pensem comigo. Ainda esta semana li a descoberta de que lá nos milhões de anos-luz descobriram um astro que gira ao redor de dois sóis... seria possível conhecer ou imaginar isto lá no meu colégio, onde Galileu pregou e provou o nosso único sistema solar com nove planetas... e que não é o sol que gira, mas sim a terra é que gira ao seu redor...
Saio daí por absolutismos maiores e mais contundentes: será que nós – humanos – somos os únicos viventes dotados de conhecimentos? Os outros milhões de sistemas solares são desabitados? Será que apenas nós terrestres temos nossas religiões até hoje em desavenças? No mais simples e elementar: Jesus Cristo, a quem chamamos e reconhecemos salvador, é único e definitivo? Como julgar, absolver ou condenar outros credos e religiões? Não apenas aqui, mas também nos outros milhares de planetas e sistemas solares.
É noite, não há nuvens, apenas estrelas pequeninas, que me servem para pensar em como somos pretensiosos e orgulhosos, donos da sabedoria, das leis e do destino. E pensar lá no Rio do Peixe, noite escura e sem lua, em pescaria de lagoa calma, o Zé do Orides do lado, eu meio besta perguntand Zé, quando morrer, pra onde você quer ir? E ele calmo, sem tirar a vara e anzol, olha lá pra cima e aponta uma estrela grande: vou morar naquela estrela, doutor! É, este é sábio...
(*) Médico e pecuarista