Nesta época do ano, pelo menos em nossa região
Nesta época do ano, pelo menos em nossa região, não encontramos a manga sabina. Mas é possível encontrar, o ano todo, outras variedades de mangas de sabores agradáveis produzidas em muitas regiões do país. Tenho-me deliciado com mangas de excelente sabor. E sempre fico cheio de dedos para não tocar na manga, procurando uma forma de cortar, digamos, uma tampa de um lado, partir a manga em quatro pedaços e apreciá-la devagarzinho. Depois corto do outro lado, bem rente ao caroço, e repito a operação com o cuidado de, em vez de tocar na fruta, usar talheres para não sujar os dedos. Entretanto essa, convenhamos, não é a moda antiga de se saborear manga.
Pois é. Eu estava com uma bela manga nas mãos e me preparava para executar essa complicada operação, quando, de repente, senti vontade de relembrar velhos tempos, em que, em turma de moleques, colhíamos mangas em chácaras, com a devida licença do proprietário, sempre sem jogar pedras nas mangueiras, para não corrermos risco de quebrar o telhado da sede da chácara, única recomendação do proprietário da terra. Todos saíamos da chácara com a camisa estufada de frutas. Porém, ainda na propriedade, metíamos os dentes na fruta, geralmente uma manga sabina, e a descascávamos na marra. Era um tal de sujar as mãos, lambuzar dedos, rosto, ponta do nariz... Ficávamos tão amarelos quanto a própria manga. Depois de explorarmos o caroço, como dizíamos, até o osso, limpávamos as mãos na roupa, lambíamos os beiços e apagávamos do rosto os vestígios da fruta. Pelas ruas, a caminho de casa, sacávamos mais uma fruta da camisa e seguíamos tranquilamente investindo naquela manga...
Como escrevi, deu-me vontade de chupar a fruta que tinha nas mãos usando os métodos antigos. Então, comecei o ritual. Após dar uma mordida na extremidade da fruta, fui retirando a casca com os dentes até descobrir toda a manga e lá fui eu, de boca, a morder em toda a polpa até deixar a fruta no caroço. E nada de jogar o caroço fora, pois sempre fica um pouco de polpa nele. Fiquei, então, roendo o caroço como se fosse o último do mundo. Mãos e faces sujas de manga, a ponta do nariz ganhando um colorido amarelo... e estava finda a operação de chupar manga à moda antiga. Tive a impressão de que a fruta havia ficado mais deliciosa. Saborear uma manga à moda antiga é sentir a doçura da fruta; é sentir o gosto da saudade...