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Sabor de saudade

Um amigo me mandou uma mensagem, pela internet, com uma imagem e uma perguntinha. Era a...

Mário Salvador
mariosalvador@terra.com.br
Publicado em 19/02/2013 às 08:34Atualizado em 16/12/2022 às 04:52
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Um amigo me mandou uma mensagem, pela internet, com uma imagem e uma perguntinha. Era a imagem de um prato cheio de frutinhas – umas, verdes; outras, amareladas – e a pergunta: “Sabe que frutas são estas?” E não é que eu estava com a resposta na ponta da língua?! “São gabirobas!” E eram mesmo gostosas gabirobas.

Gostosas na minha imaginação, pois não tive oportunidade de experimentá-las. Meu último encontro com gabirobas foi em Araguari, ainda na minha infância, aos oito anos, idade eternizada pelo poeta romântico Casimiro de Abreu: Oh, que saudades que tenho/ Da aurora da minha vida,/ Da minha infância querida/ Que os anos não trazem mais!

Na época de gabirobas e pitangas, reuníamos a turma e partíamos para as cabeceiras da cidade, à procura das frutas maduras. Era fazer uma pequena caminhada e já estávamos cercados de incontáveis pés de gabiroba e alguns pés de pitanga. Então nos entregávamos ao grande trabalho de chupar as frutinhas e encher o embornal com outras tantas que seriam levadas para casa.

Encontrar pitangas era uma festa, principalmente se estivessem madurinhas, bem vermelhinhas. “Achei!”, era o alerta de quem encontrava a pitangueira. E todos corríamos até lá.

Quando nos mudamos de Araguari para Uberaba, fui matriculado na quarta série do curso primário, no Grupo Escolar Brasil, turma da professora Ercília Soares. Já enturmado, perguntei a um dos colegas da escola que morava na vizinhança, lá no bairro Mercês, onde ficavam as cabeceiras da cidade. Ele não soube me explicar; nem sabia o que era cabeceira. Depois de ouvir minha explicação, o amigo me esclareceu que aqui não existia cabeceira, e sim arrabalde. É o cas “Cada roca com seu fuso, cada terra com seu uso.”

Então, perguntei se havia gabiroba nos arrabaldes, porém nem ele, nem nenhum de meus colegas, pelo menos eles, conheciam as frutinhas. Por certo em algum lugar do município os pés de gabiroba e de pitanga deviam existir. Desde então tenho saudades daquele sabor da infância.

Uma imagem pode nos trazer à lembrança um sabor, como as gabirobas virtuais que evocaram um sabor de infância. Mas as gabirobas mais cobiçadas continuarão sendo, sem dúvida, as reais.

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