Sempre alguém deu a própria vida para que, com seu exemplo, rumos sejam tomados e outras vidas sejam preservadas. Exemplo eloquente vimos ocorrer no dia 10/02/2014 quando o repórter da Rede Bandeirantes, Santiago Ilídio de Andrade (o Santí), faleceu. No foco de manifestações populares (?) no Rio de Janeiro, houve alguém que lhe lançasse um rojão aceso capaz de romper o seu crânio.
Falemos um pouco de Santiag extremado pai e esposo, moço íntegro, apaixonado pelo que fazia, amigo dos amigos, vinte anos de profissão, premiado com distinção e emissor de boas mensagens. Essas e outras qualidades credenciaram Santiago para receber a solidariedade de seus colegas de profissão espalhados pelo Brasil e o mundo. Confesso que jamais vi a baixa de um profissional da imprensa em serviço causar tanta comoção em seus pares. Santiago é unanimidade.
A onda de manifestações que assola o país vai ganhando dimensões incontroláveis e pelo visto caminha para agravar mais ainda a nossa imagem de nação tomada pela violência. O mundo nos vê assim e agora com as atenções do mundo voltadas para o país da Copa/2014, a morte de Santiago faz aumentar a nossa capacidade de infundir o pânico geral. Eis aí um dos fatores que podem prejudicar o nosso maior evento futebolístico. E não vejo as autoridades darem passos certos na direção do problema. Vale lembrar que a África do Sul criou leis e tribunais especiais para blindar a Copa de 2010. E o Brasil o que fará?
Não tenho dúvidas de que conceitos sobre educação, liberdade, direitos, deveres, cidadania e, sobretudo, o exemplo vindo de cima estão falidos. Bem disse Romeu Tuma Júnior, em recente entrevista na televisão, ao comentar o seu livro Assassinato de Reputações: “O povo não está contra nada; ele só não aguenta mais esse estado de coisas!”.
Não por acaso, na América do Sul somos o país mais perigoso para o exercício da liberdade de imprensa. Perdemos um jornalista para o crime a cada dois meses em 2013! Proporcionalmente, a atividade é tão perigosa quanto à de policial que tromba diariamente com o crime.
Enquanto isso, infelizmente, outros Santiago Ilídio de Andrade entram em rota de colisão com o estigma, ao qual a democracia ainda não conseguiu se sobrepor, qual seja, a impunidade fomentada pelo jeitinho brasileiro. Oxalá os algozes de Santiago paguem pelo que lhe fizeram, embora as ruas estejam lhes esperando. Essa é a nossa triste realidade...
(*) PRESIDENTE DO FÓRUM PERMANENTE DOS ARTICULISTAS DE UBERABA E REGIÃO; MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS DO TRIÂNGULO MINEIRO