SAÚDE

Cerca de 60% das jovens tem receio do "cancelamento" nas redes sociais

Bruno Campos
Publicado em 12/02/2022 às 18:45Atualizado em 18/12/2022 às 23:58
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Em pesquisa recente do Instituto de Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), seis entre cada dez jovens evitam abordar assuntos de cunho político em suas redes sociais, mesmo tendo bastante interesse nas pautas. O motivo? O medo do cancelamento. Alguns estudiosos têm chamado este fato de “Efeito Anitta”, que gera o receio na juventude de passar pelo mesmo cancelamento sofrido pela artista em 2020, quando usou de seu Instagram, hoje com mais de 59 milhões de seguidores, para fazer uma série de lives abordando temas políticos. Na ocasião, a cantora foi chamada de nomes como “burra” e até mesmo “ignorante”, uma vez que perguntou se ministérios faziam parte do Judiciário.

Leonardo Aires de Castro, doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos, aponta que os cancelados, no Brasil, em sua maioria têm cara, cor, gênero e um recorte social bastante específico e que o medo de perder oportunidades, principalmente no que tange seus empregos, é um fator decisivo para essa omissão de opinião.

“No Brasil quem é cancelado é mulher, a comunidade LGBTQIA, é o pobre, é o não branco. Existe um grupo de pessoas que são canceladas, essas pessoas são canceladas por conta da posição em que ocupam na hierarquia social, então as pessoas têm medo de falar de política e perder oportunidades. Medo de não conseguir se colocar no mercado de trabalho por conta das suas opiniões. Inclusive, já vi acontecer várias vezes casos em que a pessoa começa a trabalhar em um local e a empresa pedir para que ela não poste sobre política em seus perfis nas redes. O jovem então começa a temer a repreensão do mercado de trabalho em relação a quem se coloca ali”, elucida Leonardo.

É o caso da dentista Darlin Bohrer, uma vez que em sua profissão ela lida diretamente com o público, seu medo maior é o de dizer o que pensa a respeito de política e isso acabar lhe tirando alguns pacientes que discordem de seu posicionamento.

“Um dos meus maiores receios em expor minha opinião política, hoje, é muito relacionado ao meu profissional. Como trabalho com o público, com pessoas que têm ideias, ideais e opiniões diferentes, eu fico com medo de dizer o que penso, mesmo tendo uma opinião política formada e isso talvez gerar algum conflito com possíveis pacientes. É o medo de expor e fazer com que eu perca a oportunidade de estar vendendo meus serviços para aquela pessoa”, desabafa.

Questionado sobre o quão prejudicial o cancelamento pode ser para a pessoa alvo, o psicólogo Rafael Jordão elucida que a depender do nível do cancelamento, a pessoa pode gerar transtornos e apresentar sintomas depressivos e também de ansiedade.

“Dependendo da exposição e cancelamento que uma pessoa sofre por uma infelicidade que tenha postado, isso pode acarretar inúmeros problemas. Não é raro ver pessoas com grande visibilidade que sofreram cancelamento relatarem sintomas depressivos ou ansiosos. Perda de apetite, sono, falta de vontade de fazer o que gostava antes. Ansiedade ao sair na rua. São preocupações que podem surgir sim, principalmente após o cancelamento. No nível menor, uma pessoa não famosa, mas que sofre cancelamento de colegas de escola, por exemplo. Pode acarretar bullying virtual, sentimento de falta de valor, além de todos os já citados que famosos podem ter também. ”, explica.

O psicólogo ressalta que “é muito importante que, dependendo do teor das considerações feitas, a pessoa busque os direitos perante ao que ela está sendo exposta. Além é claro da busca de um profissional habilitado para lidar com questões de saúde mental”.

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