SAÚDE

“Congelar óvulos depois dos 37 anos é um processo desafiador”, diz especialista

O médico Ricardo Pimentel comenta caso da atriz Fernanda Paes Leme, que desabafou sobre o peso emocional durante sua tentativa de congelamento de óvulos no ano passado

Publicado em 30/01/2022 às 15:31Atualizado em 19/12/2022 às 00:20
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Recentemente, a atriz Fernanda Paes Leme concedeu uma entrevista ao podcast Pod Delas e se emocionou ao compartilhar sobre seu processo de congelamento de óvulos. Aos 38 anos, ela disse que havia feito exames e iniciado o procedimento e ficou muito mexida com o processo e com a cobrança das pessoas, que influenciou no seu emocional. “As pessoas precisam ter muito cuidado com o que cobram dos outros”, desabafou. Segundo o médico ginecologista e especialista em Reprodução Humana, Ricardo Pimentel, o congelamento de óvulos após os 37 anos é desafiador porque a qualidade dos óvulos tem relação direta com a idade.

“Mesmo com uma reserva ovariana normal ou até mesmo aumentada, a chance de uma gravidez futura é menor. É compreensível a emoção por causa da cobrança. As cobranças são indevidas e no momento errado. E não é só de fora não, a cobrança até dentro de casa é prejudicial. A infertilidade remete a sentimentos relacionados à impotência e perda de controle da situação. Segundo estudos, é tão desafiador emocionalmente como o diagnóstico de um câncer, e quase sempre os amigos e familiares desconhecem os obstáculos que a pessoa está enfrentando”, diz.

Para Ricardo, o grande problema é que as mulheres não têm acesso às informações no momento certo. “Quando ela é adolescente e vai ao ginecologista pela primeira vez - muitas vezes acompanhada da mãe -, o especialista diz que é preciso fazer um ‘planejamento familiar’, o que na maioria das vezes se resume em iniciar um método contraceptivo para evitar a gravidez até a mulher estudar, se formar, casar e se consolidar no trabalho. Ela inicia o uso do anticoncepcional por anos afora e o ‘planejamento’ termina ali. Quando a mulher está com seus 26 a 28 anos, esse assunto deveria ser abordado novamente no consultório e isso não é feito”, pontua.

Quanto mais o tempo passa, menores são as chances de gravidez

O tempo passa e as mulheres chegam às mãos do especialista em reprodução humana já em condições não ideais, como no caso da atriz Fernanda Paes Leme. “Nenhum tratamento de reprodução assistida é fácil - nem para quem deseja engravidar e nem para quem quer preservar sua fertilidade. Os obstáculos existem e são individuais de cada paciente, o nosso papel é fazer de tudo para que eles sejam superados e o objetivo alcançado. Em uma paciente com menos de 35 anos, por exemplo, um bom planejamento seria congelar algo em torno de 15 a 20 óvulos, que daria a ela uma chance futura de gravidez em torno de 70 a 80% de sucesso”, explica o médico.

Além disso, o médico afirma que todo planejamento tem que ter um objetivo final. Por isso, se esse resultado - que no caso é a gravidez espontânea -, não está sendo alcançado, é porque ele precisa ser revisto. “Se a mulher é pega de surpresa e vê que a reserva dela está diminuída por alguma razão e que ela não conseguirá atingir o número de óvulos que seria ideal, precisaremos realizar dois ou três ciclos de estimulação ovariana, necessitando de um maior investimento financeiro e emocional. Já uma mulher com 40 anos ou mais, o mesmo número de óvulos entregaria uma chance de gravidez no futuro entre 30 e 40%, dependendo de cada caso”, diz.

De acordo com dados da literatura médica, a cada ano que passa a chance de a mulher produzir um embrião de boa qualidade se reduz em 5%. Quanto mais próximo dos 40 anos, mais obstáculos aparecem porque a quantidade e a qualidade dos óvulos diminuem a cada ciclo. Segundo o especialista, até os 35 anos aproximadamente 50% dos embriões formados serão alterados geneticamente falando, enquanto aos 42 anos ou mais essa porcentagem sobe para 80-85%. Diante disso, ele argumenta que com os processos mais desafiadores, o emocional fica abalado.

“Apesar de ser seguro e relativamente rápido, o procedimento exige dedicação e disciplina. São 10 a 12 dias de injeções subcutâneas, cerca de três a quatro ultrassonografias e o procedimento de captação de óvulos exige uma sedação realizada por um anestesista. Alguns efeitos adversos como alteração de humor, barriga inchada e desconforto abdominal podem ser observados por causa das altas doses de hormônios necessários para o crescimento folicular. São duas semanas dedicadas a este objetivo. Essa é uma preocupação nossa na Perfett tornar a jornada da paciente uma caminhada segura, eficaz e com toda atenção e cuidado com cada detalhe. Temos três psicólogas à disposição do casal para que obstáculos emocionais possam ser amenizados”, pontua o médico.

Coisas que toda mulher adulta deveria saber sobre gravidez e fertilidade

1- A mulher produz todos os seus óvulos ainda na barriga da mãe e nunca mais produz óvulos novos. Então, os óvulos acompanham a idade da mulher e a cada ano vão perdendo a sua “qualidade”;

2- Para ter dois filhos de forma natural o ideal é começar logo, por volta de 27 a 29 anos, se as condições permitirem. Vale lembrar que necessitamos de um intervalo entre as gestações;

3- Após 30 anos, se não existe expectativa de gestação nos próximos 2 ou 3 anos, o mais indicado é congelar os óvulos e aumentar suas chances de gravidez futura;

4- Depois dos 35 anos a taxa de gravidez cai muito, enquanto a de complicações, como o aborto, sobe. Isso acontece porque os óvulos não terão a mesma qualidade;

5- O congelamento de óvulos é um tratamento seguro e eficaz. Estudos mostram que não há aumento no risco de câncer ou trombose;

6- Uma vez congelados, os óvulos não perdem mais qualidade, não importa o tempo que passe. Uma mulher de 40 anos que congelou óvulos aos 32 anos terá a mesma chance de gravidez de uma mulher de 32 anos, desde que outros fatores não estiverem associados.

 

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