Antes mesmo da pandemia, a pauta voltada à saúde mental já se mostrava relevante, tornando-se indispensável a partir do coronavírus e seus reflexos
Foto/Arquivo pessoal
Psicólogo Sérgio Marçal reforça que lidar com a saúde mental é essencial
Os últimos dois anos foram extremamente cansativos em diversos aspectos, mas principalmente na esfera psicológica. Com o risco iminente de uma nova onda da Covid-19, o grande número de infectados e a instabilidade ao redor do mundo trouxeram uma grande pressão à população. No entanto, antes mesmo da pandemia, a pauta voltada à saúde mental já se mostrava relevante, tornando-se indispensável a partir do coronavírus e seus reflexos. E este Janeiro Branco é o momento perfeito para compreender melhor o assunto.
Como explica o psicólogo Sérgio Marçal, o aumento nos índices de estresse, esgotamento mental, depressão e até mesmo a associação entre cansaço e ansiedade, que também culminam na depressão, são um convite a repensar nosso estilo de vida, de sociedade e a maneira como cada um de nós lida com essas questões emocionais e de saúde mental.
“Falar de saúde mental abertamente é uma necessidade, assim como se fala de qualquer demanda de saúde. Nós falamos de saúde da mulher, estamos falando mais de saúde do homem, quebrando dogmas, estigmas e tabus, por exemplo, e falar sobre saúde mental não é diferente. A saúde mental é uma das áreas da saúde humana, de forma geral. Então, olhar pros nossos incômodos, pras nossas fragilidades, olhar para o nosso lado humano, sem nos desumanizar, é uma necessidade. Somos todos carentes de cuidados em diversos aspectos da vida e da nossa saúde, inclusive, da saúde mental. Por isso, encorajar as pessoas a encontros afetivos, com suas próprias fragilidades, com suas dificuldades, é algo natural da vida”, explica Marçal.
O psicólogo conta que se um problema é cuidado, ele pode ser transformado em uma potencialidade. Mas, caso não seja tratado, pode ir se agudizando, aumentando e piorando a qualidade de vida das pessoas. “Todos nós podemos ter quadros de saúde mental reativos, ou seja, aqueles que se desenvolvem em situações reativas. E podemos ter também processos de adoecimento residuais, ou seja, aqueles que são acumulados ao longo da vida e que acabam se transformando em doença”, afirma o psicólogo.
Marçal explica que sofrer é uma experiência natural da existência humana. Porém, adoecer por causa desse sofrimento é evitável, seja qual for a origem dessa dor. “Se nós cuidarmos do sofrimento, não se transforma em doença. Sofremos por questões diversas, por perdas de entes queridos, estresse no trabalho, problemas familiares, afetivos, relacionamentos. Mas é importante olhar para tudo aquilo que nos incomoda, que altera nossa rotina, que altera nosso humor, e atentar que isso são sinais do nosso psiquismo, do nosso emocional, de situações de vida incômodas, situações produtora de sofrimento, para que a gente cuide disso, antes que se torne uma doença”, conta.
E é fundamental que cada um consiga identificar os sinais de quando existe esse sofrimento, mudança de humor, de comportamento e de vontade. “Alterações de humor, se você está mais irritado ou mais deprimido; de apetite, comendo demais ou não comendo; de sono, dormindo em excesso ou com insônia; com um frequente desejo de isolamento social, sem ficar quieto, sem sair de casa, tentando se esquivar de relacionamentos; tudo são sintomas de depressão. Sensação de que não dá conta mais da vida, de que não serve para nada, de inutilidade, tudo isso são sinais de que a gente precisa de cuidado”, finaliza.