Torcedor apaixonado pelo Corinthians, o time de Ronaldo Fenômeno, o garoto R., de 14 anos, cursava a sétima série na Escola Estadual Corina de Oliveira e tinha o hábito de jogar futebol aos domingos com os amigos. Praticava o esporte com uma turma de futebol infantil nos campos do Santa Marta e do Uberaba Sport. Na segunda-feira, 20, enquanto corria em partida no campo improvisado do bairro Morada do Parque, sentiu-se mal. Por volta das 20h sofreu parada cardiorrespiratória e não resistiu, vindo a óbito. Segundo os familiares, o garoto era ativo e animado, mas não souberam dizer se ele apresentava qualquer problema que tivesse causado seu mal-estar. Seu caso é conhecido como morte súbita. Problema que não escolhe idade. Já ocorreu tanto com recém-nascidos como em adultos. Em crianças é mais frequente nos primeiros três meses. Em jovens, como R., está provavelmente relacionada a fatores genéticos hereditários. Segundo o chefe da Cardiologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), José Geraldo Ferreira Gonçalves, no âmbito geral, a morte súbita durante esforço físico está relacionada a problemas no coração. “A maior causa é a arritmia cardíaca fatal. O coração sai do ritmo normal e vai para um acentuado, uma frequência cardíaca elevada, que pode levar à parada repentina. Ou então, não bate, apenas vibra, deixando de lançar o sangue necessário para o cérebro e o corpo. Esta é a principal causa de morte em atletas ou em pessoas que fazem esforços físicos frequentemente”. O cardiologista explica que outra causa seria a pessoa nascer com doença congênita, como um estreitamento na válvula aortica. “É uma situação em que o coração bate, mas há uma resistência da saída de sangue. E como a atividade física exige muita circulação de sangue, acaba havendo uma dificuldade no bombeamento normal para o corpo e a oxigenação fica prejudicada, o que pode levar à perda de consciência”. Ainda segundo o especialista, esse problema geralmente tem os sintomas revelados antes mesmo de o jovem completar 30 anos. Já o caso de hipotermia, identificado num primeiro momento pela equipe do Samu, não foi confirmado após o exame da perícia médica. “A hipotermia é uma situação induzida por um fator externo. Por exemplo, uma pessoa que caiu num lago gelado. Neste caso, o que pode ser é que ele teria uma alteração cardiológica importante. A maioria das pessoas jovens que pratica exercícios, não faz avaliação médica nenhuma antes de começar. No caso de esportistas, como jogadores de futebol, é preciso ter o cuidado de fazer todos os exames em pré-temporada”, explica o cardiologista José Geraldo. Recomendação. Ele lembra também que problemas cardiológicos podem passar despercebidos do conhecimento da própria pessoa, e só serem identificados através de exames médicos específicos. “A ideia de que o jovem não morre de problemas cardíacos, é equivocada. Eles também podem apresentar problemas de coração. A recomendação é que se alguém quer fazer uma atividade física, seja na academia ou um esporte, o ideal é que passe por exame clínico completo para ter mais segurança. Um eletrocardiograma e um exame de esforço são exames mínimos, mas em alguns casos é preciso aprofundar”, destaca o cardiologista. De acordo com José Geraldo, nada dispensa o exame médico. “Aquecimento, alongamento, alimentação, seriam mais para prevenir lesões musculares”, conclui. O especialista aconselha que se faça um check-up anualmente e uma avaliação médica periódica em casos de pessoas que praticam exercícios intensos, como musculação.