SAÚDE

Münchhausen: diagnóstico exige atenção a detalhes além dos sintomas

Por ser um quadro bastante complexo, tanto o diagnóstico quanto o tratamento são mais desafiadores em comparação a outras condições

Publicado em 06/11/2022 às 19:56Atualizado em 15/12/2022 às 23:39
Compartilhar

A síndrome de Munchhausen consiste em um quadro patológico no qual o paciente simula ou provoca, intencionalmente e de maneira compulsiva e contínua, qualquer tipo de sintoma físico ou psicológico para obter atenção e cuidados médicos.

Estima-se que, no Brasil, pouco mais de 1% dos pacientes internados em hospitais tenham a síndrome. Por ser um quadro bastante complexo, tanto o diagnóstico quanto o tratamento são mais desafiadores em comparação a outras condições.

O DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais) classifica a síndrome de Munchhausen no grupo de Transtornos Factícios, predominando os sintomas físicos e os seguintes critérios de diagnóstic produção ou simulação intencional de sintomas e sinais predominantemente físicos; o papel de doente é o que motiva o comportamento; ausência de incentivos externos para o comportamento (ganho econômico, fuga de responsabilidade legal ou melhora de bem-estar físico).

Como identificar

“Os atos dos pacientes são intencionais e premeditados. Eles conseguem simular patologias ao ler manuais de diagnóstico e livros de medicina, além de terem um conhecimento avançado de práticas médicas”, afirma Monica Machado, psicóloga, fundadora da Clínica Ame.C, pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.

De acordo com a psiquiatra Danielle H. Admoni, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); pode ocorrer também a produção deliberada de sinais clínicos a partir do consumo oral ou injetável de substâncias tóxicas ou infectadas e de lesões autoinfligidas. “Ao simular sintomas, a pessoa pode causar danos reais à saúde”.

Segundo um artigo publicado pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, uma das simulações típicas pode resultar na hemoptise fictícia: o indivíduo coleta parte do próprio sangue com uma seringa, aspira o líquido para armazena-lo na cavidade oral e o elimina pela boca, fingindo um sangramento interno.

Os sinais que podem identificar a síndrome de Munchhausen sã

- Comportamentos autodestrutivos

- Presença dos sintomas sem conexão com a patologia de base

- Exagero dos sintomas na presença de outras pessoas

- Incompatibilidade das histórias contadas

- Conhecimento profundo de práticas e terminologias médicas

- Vontade incomum de se submeter a exames e procedimentos médicos

- Resposta ineficiente aos tratamentos

- Evitar que médicos conversem com familiares

Relação com outros transtornos

Ainda não foram identificadas causas exatas para essa síndrome, mas se sabe que a carência afetiva e alguns transtornos estão relacionados:

Transtorno de Borderline

Sua maior característica é a instabilidade emocional, com constante mudança de humor e baixa tolerância a frustrações. “O paciente tem episódios intensos de depressão, ansiedade e até mesmo de raiva, que podem durar minutos, horas ou dias. Por isso, pessoas com Boderline estão mais suscetíveis a desenvolver a síndrome de Munchhausen”, explica Monica Machado.

Depressão

A doença, que também gera alterações importantes de comportamento, é caracterizada por desinteresse pela vida, baixa autoestima, desânimo, isolamento, entre outros. “Muitas pessoas com sintomas de Munchhausen têm diagnóstico de depressão, cuja tendência é iniciar o tratamento e abandonar logo no início”, conta Danielle Admoni.

Traumas na infância

Podem envolver abuso e violência sexual, assaltos, acidentes, agressões físicas e psicológicas, entre outras situações de estresse extremo. Estes episódios também podem desencadear a síndrome na vida adulta.

Tratamento

O diagnóstico tende a ser um desafio e exige atenção a detalhes que vão além dos sintomas, como análise do histórico de saúde física e mental do paciente. Se o transtorno não for tratado logo, a pessoa pode acabar se ferindo gravemente e gerar danos à saúde devido aos constantes procedimentos desnecessários.

Segundo Monica Machado, familiares e pessoas próximas têm papel fundamental no diagnóstico e tratamento do paciente. “Eles costumam ser os primeiros a identificar anormalidades no comportamento e nos discursos do indivíduo”, pontua a psicóloga.

Já o especialista precisa fazer uma investigação extensa da vida do paciente para chegar a um possível diagnóstico. Além do seu histórico, ele deve listar os lugares de internação e quantas vezes ela ocorreu; os tratamentos já realizados e as razões por ter mudado de médico ou instituição de saúde.

“O ideal é sempre evitar o confronto, permitindo que o paciente conheça sua situação gradualmente, visando à cooperação e à aceitação do tratamento. É preciso que ele tenha consciência que sua situação não é física, mas psíquica, para aumentar a chance de aderir ao tratamento. Vale lembrar que o uso de antidepressivos e outros medicamentos é indicado nos casos em que há outro transtorno concomitante”, finaliza Danielle Admoni.

 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM OnlineLogotipo JM Online

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por