O aparelho pode determinar com mais precisão a idade gestacional, o que é vital para definir procedimentos a adotar logo após o nascimento
Foto/UFMG
A prematuridade é a principal causa de morte em recém-nascidos com menos de 28 dias. No mundo, por ano, mais de um milhão de crianças desse grupo não resistem, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Para evitar esse quadro, pesquisadores de uma universidade pública desenvolveram um aparelho com tecnologia à luz de LED capaz de determinar com mais precisão a idade gestacional.
A informação é importante para definir procedimentos adequados a adotar com o bebê logo após o nascimento, como controle de temperatura, equipamento para respiração e até a transferência para centros de referência. As primeiras 24 horas podem ser cruciais para salvar o bebê.
É nesse período que a tecnologia inédita, chamada Preemie-Test, atua, segundo a professora Zilma Reis, que coordena o estudo desenvolvido pelo grupo Skinage, da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
"Em muitas situações, a mãe não faz um acompanhamento [pré-natal], principalmente em países com baixa renda. Quando não se tem a idade gestacional correta, há risco à sobrevivência do bebê. Isso porque não se tem certeza se é ele prematuro ou o quão prematuro ele é. Reconhecer essa condição logo após o parto é o primeiro passo para evitar complicações", afirma Zilma.
O teste é feito na sola do pé do bebê com um aparelho pouco maior que um termômetro. A luz de LED incide de forma diferente no recém-nascido de nove meses e no que nasceu antes do tempo, e o Preemie-Test faz o cálculo a partir da penetração na pele.
O peso também é considerado. Em seguida, um algoritmo de inteligência artificial faz o cálculo mais preciso, com acerto de cerca de 90%, segundo a equipe. O resultado é imediato.
"O prematuro tem a pele transparente, então a luz penetra muito. Já num bebê não prematuro, funciona como um espelho, [a luz] bate e volta para a máquina. Desenvolvemos uma escala para determinar a maturidade da pele proporcional à transparência", explica a professora.
O estudo foi feito com 781 bebês de janeiro de 2019 a maio de 2021, em cinco hospitais públicos brasileiros: Maranhão, Brasília, Rio Grande do Sul e dois em Minas Gerais. Uma outra etapa foi realizada com 305 crianças nascidas com menos de 2,5 quilos no Brasil e em Moçambique.
De acordo com a OMS, o nascimento prematuro é aquele que ocorre antes da 37ª semana de gestação, ou menos de 259 dias a contar da data da última menstruação. Nessa fase, o bebê pode não estar preparado para enfrentar o mundo fora do útero sem suporte adequado.
Anualmente no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, 300 mil crianças nascem antes do tempo. Em 2021, a taxa de mortalidade para essa população foi de 15,06 para cada mil prematuros.
A professora e ginecologista Zilma, vinculada ao Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFMG, explica que pode acontecer de o bebê nascer aparentemente bem, mas a situação mudar.
"Ele começa a entrar em insuficiência respiratória porque o pulmão não está preparado. Com a luz de LED, a ideia é identificar esse prematuro e fornecer informação rápida para um atendimento adequado imediato. O principal dessa tecnologia é apoiar as decisões dos profissionais de saúde."
Ruth Guinsburg, professora de pediatria neonatal da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que o momento do nascimento e o primeiro dia de vida da criança são críticos.
Na hora que o bebê nasce, tudo muda abruptamente e ele tem que se adaptar. Por isso, ela diz que na hora do parto, é preciso haver uma estrutura que atenda a complexidade do nascimento de um prematuro, que vai ter mais dificuldade para fazer a transição da respiração.
"No útero, o nenêm recebe o oxigênio da mãe. Quando ele nasce, precisa respirar e encher o pulmão de ar, só que ele não tem mais a placenta para ajudar. Essa transição é extremamente crítica para os bebês não morrerem nas primeiras horas de vida", afirma a professora da Unifesp.
A empresa BirthTec, licenciada pela UFMG, com sede no Brasil e em Portugal, foi criada para produzir e comercializar o Preemie-Test no mundo. Rodney Nascimento Guimarães, diretor-geral, explica que o objetivo é doar o equipamento para alguns hospitais no Brasil e em outros países.
"Estamos fazendo um estudo para identificar em qual cenário de nascimento o equipamento poderia ajudar mais. Já estamos enviando o dispositivo para Índia, México, Colômbia e mais 13 países, como Guatemala, Costa Rica, Trinidade e Tobago, Equador, Chile, Argentina e Estados Unidos."
Guimarães afirma que a Anvisa deve aprovar o dispositivo em novembro. O Ministério da Saúde informou que tem reforçado o cuidado e assistência às gestantes e bebês no SUS (Sistema Único de Saúde) e que a rede de atenção materna e infantil prioriza o aprimoramento das ações de atenção à saúde das mulheres e crianças, fortalecendo serviços de gestação de alto risco. (Tatiana Cavalcanti/Folhapress)