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Pesquisas do HC-UFTM e do HU-UFSCar avaliam efeitos de longo prazo da covid-19

Publicado em 10/07/2023 às 14:18Atualizado em 11/07/2023 às 06:15
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Pesquisa HC-UFTM e HU-UFSCar (Foto/Divulgação)

Os efeitos da Covid-19 nas pessoas que tiveram a doença foram objeto de pesquisas realizadas pelo Hospital Universitário da Universidade Federal de São Carlos (HU-UFSCar) e pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM). Os dois projetos foram desenvolvidos durante o Programa de Iniciação Científica (PIC) da Ebserh e seus resultados foram apresentados recentemente ao público, nos dias 1.º e 2 de junho, no Congresso de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde do HC-UFTM; e no dia 16 de junho, no Congresso de Iniciação Científica do HU-UFSCar.

Imagem corporal

Desenvolvido com 55 pacientes do Ambulatório Multiprofissional Pós-covid-19 do HC-UFTM, entre junho de 2021 a outubro de 2022, a pesquisa “Associação da imagem corporal com o nível de atividade física de pacientes com síndrome pós-covid-19” avaliou a associação entre o nível de atividade física praticado e os distúrbios de imagem corporal (insatisfação e distorção corporal), que estão relacionados a transtornos alimentares, dismórficos corporais (preocupação patológica com a aparência) e psicoemocionais (como ansiedade e depressão).

A síndrome pós-covid, também chamada de covid longa, conforme explica o profissional de Educação Física e membro do Núcleo de Avaliação de Tecnologia em Saúde (Nats) do HC-UFTM e orientador desse trabalho, professor Valter Paulo Neves Miranda, provoca sintomas que permanecem por longos períodos após o paciente ter sido infectado pelo vírus, como fraqueza muscular, dificuldades ao caminhar, queda de cabelo e fadiga expressiva.

Um passo da pesquisa foi rastrear nos usuários esses sinais, percebendo também que, com o período de isolamento para contenção das infecções pelo vírus, houve uma diminuição expressiva de prática de exercícios físicos. O objetivo do trabalho, então, foi verificar se as pessoas cumpriam 150 minutos de atividade física semanal e, caso não, se estariam demonstrando alguma insatisfação e distorção corporal excessiva, e se apresentavam, portanto, distúrbios de imagem corporal.

Conforme apresentou o bolsista Leonardo Augusto Severino Fonseca, as avaliações realizadas com questionário e medições (peso, altura, gordura corporal, massa magra, Índice de Massa Corpórea - IMC) demonstraram que 79,6% (44) dos pacientes apresentaram alguma insatisfação corporal; destes, 41 tiveram o nível de atividade física insuficiente (abaixo dos 150 minutos semanais recomendados).

Adicionalmente, 67,9% (37) foram identificados como portadores da distorção, com 34 deles não praticando suficientemente exercícios físicos. Nos pacientes com sete sintomas ou mais, 80% manifestaram insatisfação e 70% distorção corporal. Também como resultado, 49,1% dos indivíduos se viam com IMC menor do que realmente tinham. Dessa forma, a pesquisa concluiu que o nível de atividade teve relação com a imagem corporal da amostra analisada.

Na visão do orientador, o trabalho contribui na perspectiva de entender que a síndrome pós-covid afeta as questões físicas e psicoemocionais, principalmente com relação à satisfação com a própria imagem. “A pesquisa incentiva os pacientes sobre a realização de atividades e exercícios físicos como forma de contribuir com a saúde integral, especialmente nesses casos pós-covid”. Entre 2022 e 2023, os resultados dessa pesquisa já foram apresentados em mais três eventos científicos, além do Congresso de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde do HC-UFTM, são eles: I Congresso Internacional de Ciência do Movimento; 5.º Simpósio de Atividade Física e Saúde da região Sudeste; e o XVI Simpósio Nordestino de Atividade Física e Saúde.

Para o bolsista, a pesquisa o ajudou no amadurecimento profissional e estudantil. “Foi tudo muito positivo, com meu orientador, com os residentes, no próprio hospital, no trabalho multiprofissional dentro do ambulatório. Foi muito enriquecedor”. No canal do youtube da Gerência de Ensino e Pesquisa (GEP) do HC-UFTM, Leonardo apresenta mais detalhes da pesquisa.

Força muscular

O trabalho executado no HU-UFSCar tem como título: “Avaliação da capacidade funcional e persistência de sintomas em pacientes após 12 meses da alta hospitalar por covid-19”, realizado pela estudante de fisioterapia Lívia Maria Petilli Zopelari, sob orientação da professora Valéria Amorim Pires di Lorenzo, do Departamento de Fisioterapia da UFSCar; e coorientação de Tathyana Emília Neves de Figueiredo, fisioterapeuta do HU-UFSCar. Este estudo avaliou o quanto a doença acometia a capacidade funcional e a persistência de sintomas, além dos impactos nas atividades diárias e qualidade de vida após um ano da alta dos pacientes que estiveram internados em um tempo médio de 5 a 15 dias no hospital.

Segundo a orientadora, a capacidade funcional envolve um conjunto de atividades físicas como sentar, levantar, equilíbrio, constância e velocidade da marcha, itens avaliados pelos testes físicos utilizados no estudo. Além dessas avaliações, foi verificado o quanto a força muscular dos membros inferiores poderia influenciar na capacidade funcional dos pacientes. “A covid-19 é uma doença que acomete o sistema respiratório, mas não somente ele. Ela pode atingir outros sistemas, como o musculoesquelético”, ressalta Valéria.

Foram 35 pacientes avaliados, com idades entre 18 e 82 anos, que estivessem hemodinamicamente estáveis (ausência de arritmias graves, hipertensão arterial descontrolada), conforme explica a bolsista Lívia. Houve uma etapa de entrevistas por videochamadas, a fim de entender o cotidiano das pessoas, que atividades desempenham, e quais as principais queixas, além dos testes presenciais (Short Physical Performance Battery – SPPB e a Dinamometria manual portátil do Quadríceps – MicroFet) no Hospital. Os resultados demonstraram que uma parcela desses pacientes teve a diminuição da capacidade funcional, com 17 deles apresentando fraqueza muscular, 14 com fadiga severa, nove com fadiga leve e 18 com dispneia (sensação de falta de ar), bem como foi verificado que esses pacientes apresentavam prejuízos nas atividades do dia a dia e qualidade de vida.

O trabalho traz luz à “importância da avaliação fisioterapêutica na alta hospitalar, principalmente para direcionar uma reabilitação, não só para a covid-19, mas para as síndromes respiratórias com necessidade de internação. E também o acompanhamento desses pacientes após o processo de hospitalização”, conclui a orientadora. Todos os participantes da pesquisa receberam o relatório com seus resultados e orientações para buscarem serviços de reabilitação para tratamento dos sintomas.

Esse projeto também recebeu reconhecimento durante o Congresso de Iniciação Científica do HU-UFSCar conquistando o 2.º lugar de destaque entre as pesquisas realizadas pelo PIC/Ebserh na unidade hospitalar. “Foi muito gratificante. Foi um trabalho que demandou esforço para recrutar pacientes, interpretar os dados e eu aprendi muito nesse processo”, destaca Lívia. 

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