O aposentado Barsanulfo de Jesus Silva, de 72 anos, é uma das pessoas que, “misteriosamente”, passam ilesas à Covid-19. Antes da explosão de casos, até pegava uma gripe ou outra, mas não tinha nenhum sintoma. “Algumas vezes eu ficava resfriado, antes das vacinas, mas graças a Deus tem dois anos que não resfrio”, conta.
O idoso também alinhou cuidados com boa imunidade. “Por causa da idade, evitei muitas coisas, fiz uso de máscaras, até aqui me ajudou muito”, relata. Alegre, ele afirma que já tomou até a quarta dose.
A neta, Nicole Queiroz, também é dura na queda e fez companhia para o avô nos momentos em que todos os familiares estavam infectados. Ela conta que o irmão, a mãe e o padrasto pegaram Covid-19, mas ela também passou ilesa. “Quando meu irmão pegou, todos fizemos o exame, ninguém deu positivo além dele, e pelo motivo de eu ter que trabalhar, me isolei junto com meu avô na casa dele. Aí quando o namorado da minha mãe e depois minha mãe, pegaram, foi a mesma coisa”, relembra.
Segundo o infectologista Rodrigo Molina, essa “proteção” pode estar ligada ao sistema imunológico. “Não tem nada definido ainda, mas podem existir alterações genéticas”, conta. Ele ainda alerta que é importante lembrar que essas pessoas podem ter se infectado de forma assintomática, ou seja, não apresentaram tosse, febre, dor no corpo, ou qualquer sintoma da doença.
Foto/Jairo Chagas
De acordo com estudos sobre a transmissão do Sars-Cov-2, na Universidade de São Paulo (USP), a bióloga e geneticista Mayana Zatz, condutora das pesquisas, aponta que um dos principais achados do grupo é uma possível explicação genética para a situação.
Os pesquisadores buscaram casais discordantes (quando um pega o vírus, mas não passa para o outro) e fizeram o sequenciamento de uma parte do DNA dos voluntários. “Percebemos que havia uma diferença em alguns genes responsáveis pela resposta imune e que as pessoas infectadas com sintomas têm uma resposta mais tardia das células NK, chamadas de natural killers, que servem como primeira barreira de defesa do nosso organismo contra uma infecção”, explica Mayana.
Em quem não fica doente, ocorre justamente o contrário, essas células parecem ser mais rápidas, destruindo o vírus sem dar chances dele se replicar ou se espalhar por aí. O estudo genético está indo além dos casais. “Avaliamos centenários que passaram imunes pela gripe espanhola e, agora, pelo coronavírus”, revela a bióloga.
Todas essas análises, que continuam em andamento, têm como objetivo identificar linhagens de pessoas que carregam genes protetores e mais respostas sobre nossa interação com o vírus. “Esses dados podem levar a futuros tratamentos contra a Covid-19 e também nos deixar mais preparados para as próximas pandemias”, avalia Zatz.