Depressão (Foto/Arquivo JM)
Apontado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o país mais ansioso do mundo e um dos líderes em casos de depressão, o Brasil registra anualmente um aumento na comercialização de antidepressivos e estabilizadores de humor. Conforme dados do Conselho Federal de Farmácia, a venda desses medicamentos cresceu cerca de 58% entre os anos de 2017 e 2021. Em uma entrevista concedida ao Jornal da Manhã, o psicólogo e gerente do Instituto Maria Modesto, Sérgio Marçal, abordou uma questão crucial relacionada ao tratamento da saúde mental: o uso de medicamentos e a resistência à psicoterapia.
Segundo Marçal, embora os medicamentos possam controlar os sintomas, é fundamental compreender as causas do sofrimento. "A medicação controla os sintomas, mas o que causa esses sintomas? Não basta tomar um medicamento que vai mascarar a causa dos sintomas, sem possibilitar uma resolução efetiva. Existe uma tendência à dependência da medicação e à não solução completa do problema”, esclarece.
O psicólogo Sérgio Marçal ressaltou a importância do uso de medicamentos, mas ponderou que a paciente precisa aprender a lidar com os problemas que levam a depressão e ansiedade. “A psicoterapia é essencial para ajudar as pessoas a compreenderem os fatores de sofrimento em suas vidas e desenvolverem estratégias para lidar com eles de forma saudável, em vez de dependerem indefinidamente de medicamentos. Ao combinar o uso adequado de medicamentos com a psicoterapia, é possível obter resultados mais abrangentes e positivos”.
Diante desse cenário, o Ambulatório de Saúde Mental está investindo em uma abordagem mais ativa para sensibilizar os pacientes. “A gente sabe que a resistência a psicoterapia é um mecanismo de defesa. E é importante que a pessoa inicie, pois em apenas um mês de tratamento, os pacientes já apresentam melhorias significativas. Em dois ou três meses, é comum estabelecer um vínculo terapêutico mais sólido e aproximar o paciente do processo de tratamento. E o principal é a mudança de cultura. Porque existe a tradição do cuidado médico comprado, mas há outras alternativas, como a psicoterapia, terapia ocupacional”.
A população brasileira recorre de forma progressiva aos fármacos em situações relacionadas à saúde mental. A pandemia ocasionada pelo vírus da covid-19 também foi um fator considerável para o aumento da comercialização desses fármacos. De 2019 para 2020, o crescimento foi de 17% e, de 2020 para 2021, foi de 12%.
De acordo com um levantamento divulgado em 2017 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 5,8% da população sofre com a depressão e 9,3% possui problemas com ansiedade. Esses dados podem explicar o “sucesso” de ansiolíticos, antidepressivos e sedativos nos últimos anos.