Figura paterna possui papel fundamental na escolhe de companheiros
Para além do Agosto Lilás, a pauta da violência doméstica deve ser debatida o ano inteiro. Em Uberaba, por exemplo, o número de pedidos de medida protetiva pode chegar a 15 durante os finais de semana, conforme informações da titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Mariana Pontes Andrade. No entanto, tão importante quanto o atendimento dos casos é a tratar o mal pela raiz, que estaria no emocional das vítimas e dos autores, segundo a psicóloga, Sandra Abadia Gomes de Andrade.
Conforme Sandra, compreender e analisar a história de vida de cada vítima é fundamental para encontrar os pontos fracos nas crenças dessa pessoa em relação ao merecimento. “Não basta as pessoas dizerem que se a mulher quiser sair, ela sai, ou que é pouca vergonha, porque apanha e volta. É claro que existe um ciclo. E é claro que essa pessoa não chegou nesse aspecto do nada. Nós temos uma história de vida que fundou a nossa estima, as nossas dificuldades, aquilo que a gente acha que vale como pessoa”, explica.
Sandra Abadia ressalta que é preciso mudar essa crença inicial para que a mulher se sinta pronta e segura para tomar a decisão de abandonar um relacionamento abusivo. “O ponto onde ela pode se sentir mais forte, dizer ‘Eu mereço coisa melhor, eu posso sair desse ciclo, eu posso ter voz, eu posso ter minha vida, eu posso me reconstituir’”, reforça a psicóloga.
Essas crenças podem estar ligadas à repetição de ciclos familiares, principalmente partidos da figura paterna, aponta a psicóloga, sendo que o abandono e a ausência também podem ser traduzidos como violência. A ajuda psicológica, de acordo com a profissional, é o principal meio para sair deste ciclo. Sandra explica o problema é tão emocional quanto social.
“Às vezes, a pessoa fala que tem o dedo podre. Não é que ela vai lá e escolhe conscientemente isso, ela vai pelas suas dificuldades inconscientes, que é de buscar, às vezes, restaurar um pai interno do qual ela não conseguiu ter. Sei que as pessoas têm muita dificuldade de aceitar que esse é um problema muito mais emocional do que social. Se torna social porque cria uma disfunção familiar. E eu acho que mais políticas de saúde, principalmente saúde mental”, alerta.
Sandra Abadia alerta também para o aumento nos casos de violência doméstica durante a pandemia da Covid-19. A psicóloga explica que os casos começaram a atingir também aos filhos das vítimas. “Nós recebemos inúmeras situações, nós temos, inclusive, um grupo na psicanálise, chama COAP, que é o comitê das mulheres na Psicanálise. Estamos fazendo trabalho de atendimentos, inclusive online, para essas mulheres vítimas de violência, porque a violência não ficou só com a mulher, também partiu para as crianças. A pandemia prendeu a loucura na gaiola”, relata.