Quase sempre, a nostalgia me tenta, e me lembro de quando ainda não dispúnhamos de tanta tecnologia a que agora, obrigatoriamente, nos sucumbimos. Hoje, temos notícias de familiares e amigos em tempo real pelas redes sociais e não vivemos sem internet e celular.
Antes do advento de eletrônicos, faziam-se brincadeiras solidárias: um grupo de colegas conversava, cantava, corria, pulava sela, dava as mãos na sacarrilha e brincadeiras de roda, subia em árvores, sujava-se de terra, nadava em rios, rodava pião, escondia-se no pique-esconde, jogava bolinha de gude, ganhava figurinha no bafo, plantava bananeira, pulava corda. Meninas costuravam em ocasiões especiais (como no batizado de bonecas), faziam comida em fogõezinhos de tijolos e tinham vassourinhas, que nem sei se ainda são fabricadas. (Sim, houve um tempo em que nem se dedilhavam mensagens em teclados, nem se procurava em redes sociais algo para mostrar a amigos, num encontro.) Cansadas e ofegantes ao final do dia, as crianças voltavam felizes para casa. Infância prazerosa, dadivosa, rica em amizades, que se firmaram em divertidas brincadeiras.
Facilidades vieram com conquistas diversas. Vive-se mais e com mais saúde, graças a recursos e descobertas da medicina. Pela internet, de diversas formas, somos alertados para a importância do exercício do corpo e da mente. Lidar com computadores, jogar, valer-nos de redes sociais, estudar (mesmo que a distância) é recomendável. Outros pequenos exemplos (numa visão leiga) ilustram mudanças. Era comum morrer de barriga-d’água. E faziam-se sangrias para acalmar pacientes. Curativos com enormes esparadrapos cobriam grandes incisões necessárias para se chegar a algum órgão num paciente. E o doente, enquanto comemorava o sucesso da cirurgia, penava nas dolorosas trocas de curativo. Hoje as incisões, em geral, são pequenas; a aparelhagem, sofisticada, e o sucesso nos procedimentos, mesmo os mais complicados, é mais frequente.
Por outro lado, quanto às relações humanas, houve esfacelamento de laços da família, que era o nosso maior apoio. O progresso aniquilou o diálogo. E frequentemente muitos filhos se veem sufocados pelas consequências da separação dos pais.
O mundo evolui. Benefícios das mudanças são flagrantes. Não se pode ficar enclausurado em si mesmo, ou num tempo que se foi. Consideremos cada coisa no seu tempo. Tudo pode ser bom se soubermos desfrutar de cada momento de forma prazerosa e saudável. E como seres humanos devemos buscar nossa felicidade em nosso espaço e em nosso tempo.