ARTICULISTAS

Se um dia eu voltar

Certa manhã de um domingo de dezembro do ano de 1949

Manoel Therezo
Publicado em 31/08/2013 às 20:56Atualizado em 19/12/2022 às 11:21
Compartilhar

Certa manhã de um domingo de dezembro do ano de 1949, o Destino que muitos não acreditam, mas ele existe sim. Esteve lá em casa, na Rua Cel Clementino Nº6 em Jardinópolis. Como de seu costume, sem nada me dizer como também não diz a ninguém o porquê das coisas, pegou enérgico em meu braço e me colocou no vagão de terceira classe da velha “maria-fumaça” que se preparava para vir até Uberaba. Sentado em um banco de madeira desconfortável, perdido em mil pensamentos indecisos, pela janela ao lado, olhava triste aquela casa da Rua Cel Clementino Nº6, onde ficavam três pedaços de meu coração; nossa mãe, e meus dois irmãos, Celso e Maria. Às 16 horas daquele domingo quente, chegávamos à estação de Uberaba. Se eu tivesse neste Jornal o espaço bastante, lhe contaria o que o Destino fez comigo. Se ele fosse um ser humano, eu teria brigado com ele. Mas, tudo passou. Hoje sou quem de há muito lhe venho pedind SE UM DIA EU VOLTAR, que de novo pegue em meu braço e me arraste para Uberaba, assim como me fez em 1949. Que faça voltar também para que eu possa abraçar e agradecer, aquelas criaturas que tudo fizeram por mim. De nenhuma, me esqueço. Não fossem elas, eu não teria sobrevivido onde o Destino quis que eu ficasse. Moram eternamente em meu coração; Sra. Cecília Arantes Palmério, Prof. Dr José Peppe Junior (Peppinho), Prof. Dr. Odilon Fernandes, Prof. Dom Sebastião de Araujo Falcom, Prof. Dr Jorge H. M. Furtado, Sr. Mário Augusto Rosa, (livraria A.B.C). SE UM DIA EU VOLTAR, de novo quero rever aquela paisagem triste e feia de Uberaba que conheci com meus 21 anos—um moço simples, cheio de medo, de esperanças e de vontade também. SEU UM DIA EU VOLTAR, quero de novo sentir a alegria explodindo dentro de mim. Um rapaz de cabeça raspada, orgulhoso de estar entre os calouros da Faculdade de Odontologia que tímida como eu, esperançosa como eu, começava a dar também os seus primeiros passos na desconhecida estrada de sua caminhada. SE UM DIA EU VOLTAR, quero de novo ser chamado de “xuxu” e, ouvir os apelidos dos meus colegas que na minha saudade se repetem: Boi, Tamanduá, Rosinha, Macuco, Repolho, Cristão, Casquinha, Conta-gotas, Crustáceo e tantos outros que não me esqueço. SE UM DIA EU VOLTAR, quero me rever sisudo, enérgico e importante como “Auxiliar de disciplina” no Colégio do Triângulo Mineiro, onde conheci homens amigos e grandes inteligências. SE UM DIA EU VOLTAR, quero rever o “Tênis Clube” naqueles grandes bailes, naquelas dançantes das manhãs dos domingos. Que voltem os boleros falando de amor e as rumbas contagiantes que o moço de hoje, coitado... Se tivesse vivido naqueles tempos, tudo daria para que os boleros e as rumbas não se tardassem. SE UM DIA EU VOLTAR, quero rever as Flamboaiãs floridas, embelezando aquela Faculdade que foi o meu templo sagrado, onde por vezes ao me lembrar de onde vinha e de sentir onde havia chegado, muita e muitas vezes de alegria, escondido chorei... SE UM DIA EU VOLTAR, quero viver nesta Uberaba que é o meu mundo. Nesta Uberaba que me espera partir, para quem sabe no amanhã, eu possa vê-la de novo na esperança desse momento que espero; SE UM DIA EU VOLTAR.

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por