ARTICULISTAS

Sem pé e sem cabeça

Sempre estamos aprendendo. Tudo é lição

Manoel Therezo
Publicado em 22/12/2012 às 19:34Atualizado em 19/12/2022 às 15:39
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Sempre estamos aprendendo. Tudo é lição. Certamente até os tombos nos inícios do nosso engatinhar, nos foram às primeiras lições da vida? “Viver é aprender”, diz velha sabedoria. Um dia que já se perde no tempo, vi minha mãe chorar e eu lhe fui o causador. Lá pelos meus doze anos, um vizinho, me deu uma gaiola com um pássaro preto. Aquilo me foi uma alegria. Dependurei a gaiola perto da porta da cozinha. Todos os dias, um gato magrelo do próprio vizinho, ficava por lá espreitando o meu pássaro preto para encher o papo. Nas primeiras vezes quando me via, saia em disparada. Numa tarde, ele já estava dentro da cozinha olhando o meu pássaro preto. Mesmo me vendo, sequer saiu do lugar. É hoje, pensei... Molhei uma toalha e fui para lhe dar aquela surra. Logo entendeu o meu desejo. Rápido como são os gatos, para alcançar uma janela, pulou em cima do fogão a lenha esbarrando-se numa vasilha que esparramou pelo chão, toda a comida da nossa janta. O gato se foi e eu fiquei horrorizado vendo o que eu havia feito. Minha mãe ante o barulho, foi lá ver o que acontecia. Com as mãos no rosto, chorou baixinho. Não me bateu. Foi até a gaiola e soltou o meu pássaro preto, o (causador). Quantas lições aquele momento encerrou.  O primeiro e mais importante dentre eles: Não fazer sua mãe chorar. Doutra feita e bem mais recente, estava eu em aula prática na Faculdade. Bateram à porta. Atendi. A direção geral me chamava. Apreensivo, fui até lá. Os departamentos estavam reunidos com a direção geral.  Encarregava-me a direção, de uma missão muito difícil. Tudo da clínica que fosse para o laboratório de próteses para ser realizado, eu deveria autorizar. Apresentei as minhas alegações, ressaltando que estaria desautorizando o professor que acompanhava o trabalho do aluno. Isso é problema seu, respondeu-me a direção geral. Não havendo como sair, disse que iria experimentar o que me propunham. Combinei com os professores da clinica, um procedimento entre nós. Dias depois, uma aluna veio a mim para o visto de um trabalho para a fundição. Assentou-se ao meu lado e mostrou-me algo esculpido em cera.—“O que é isto, minha filha?”—“O que é isto, professor, respondeu-me parecendo-me desagradada”.—“Sim, lhe respondi. Não estou entendendo”—“ Não é possível, professor!...Isto é o molde de um pino de um canino para uma coroa, me explicou.” Discordando daquele formato, apanhei o lápis e desenhei um canino de perfil e  por dentro, outro canino copiando o esboço externo. Depois, apaguei o esboço externo ficando o interno (um canino diminuído) que deveria de ser o formato do pino que ela falava. —“Não está assim, me perguntou estranhamente?” —“Não, retruquei. Assim como o vejo minha filha, ESTÁ SEM PÉ E SEM CABEÇA.” Pra que, meu amigo! Nem mesmo lhe chamando de filha, levantou-se com faces avermelhadas, raivosa e me olhando cara a cara me falou: “SEM PÉ E SEM CABEÇA professor, é Frango de frigorífico.” Pisando firme, largou o molde sobre a mesa e se foi. Pouco depois veio o seu professor pedir-me desculpas pelo procedimento dela. Também lhe encarreguei das minhas. Corrigimos, autorizando a fundição. Depois passei a observar nos supermercados. Estava certa. Os frangos dos frigoríficos realmente sempre estão SEM PÉ E SEM CABEÇA. Mais uma lição.

(*) Odontólogo; ex-professor universitário

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