Em encontro para discutir reformas na seguridade social, num contexto de crise econômica...
Em encontro para discutir reformas na seguridade social, num contexto de crise econômica, Taro Aso, 72 anos, ministro das Finanças do Japão, disse que idosos doentes devem ser autorizados a “se apressar e morrer”, para aliviar a pressão sobre o Estado, responsável por pagar as despesas médicas.
Com a maior expectativa de vida do mundo, o Japão, país de ricas tradições, carrega o pensamento milenar de que idoso é ídolo. Um quarto de seus 124 milhões de habitantes tem mais de 60 anos e, nos próximos 50 anos, 40% da população estará nessa faixa etária.
O indigesto falatório, destaque na mídia mundial, levou Aso (que já assinou documento recomendando a familiares não prolongarem sua vida por meio de tratamento médico) a reconhecer que sua fala foi inapropriada para um evento público e admitiu ter expressado apenas uma preferência pessoal.
É massacrante lidar com doente em fase terminal, mantido vivo graças a recursos da medicina e cuidados de abnegados médicos e familiares, sabe-se lá por quanto tempo, sem que haja esperança. E cada caso balança a estrutura familiar, com sua carga enorme de emoção, porém é certo que ninguém quer adoecer e dar trabalho a terceiros.
Barbara Gancia, da Folha de S. Paulo, passou por perda recente e diz concordar com Aso. Ela explica que, mesmo com o parente pedindo, não é fácil apagar-lhe o último sopro de vida. É pensando nessa dificuldade que muitos pacientes o fazem por suas próprias mãos, como aconteceu com o ator Walmor Chagas. Gancia aborda o assunto do ponto de vista do cuidador. Mas o ponto de vista do idoso parece ser outro.
Talvez só tenham direito de reclamar de cuidar de um idoso doente aqueles que, quando bebês, trocaram as próprias fraldas, prepararam mamadeira e banho para si e nunca choraram de madrugada.
Não temos o conhecimento dos psicólogos, que sabem tratar com propriedade acerca deste assunto; ousamos falar fundamentados na experiência de vida: é infantil a ideia de querer resolver problemas desejando simplesmente que eles sumam, quando não os sabemos enfrentar. É possível encontrar soluções mais viáveis. E aqueles que têm competência para encontrar essas soluções é que devem assumir cargos públicos. Não é preciso ser covarde desejando a morte dos idosos, que não conseguem se defender.
Pessoa pública não é diretor de Big Brother, que faz o que bem entende com suas marionetes. Entre poder ouvir ministro que fala bobagens e idoso com experiência de vida, os japoneses fazem opção pelo segundo. Idosos podem oferecer, a quem precisa, lições de sabedoria e de respeito ao próximo, ensinamentos e exemplo de vida...
Eclesiástico 3,12-14 consola os que se dedicam ao idoso e adverte os que o desprezam: “Filho, cuida de teu pai na velhice, não o desgostes em vida. Mesmo se a sua [a do pai] inteligência faltar, sê indulgente com ele, não o menosprezes, tu que estás em pleno vigor. Pois uma caridade feita a um pai não será esquecida, e no lugar dos teus pecados ela valerá como reparação.”
Não merecem relevância as palavras de Aso, pois só merece consideração aquele que tem consideração pelo homem. Acreditamos que ele julgou a importância do idoso pela importância que atribui a si mesmo. A falta de bom senso pode fazer brilhar a ignorância. Quem opta por ser homem público precisa, no mínimo, saber se comportar como tal. Talvez os idosos possam ensinar isso a ele.