ARTICULISTAS

Sem solução

Estimado leitor, este é artigo marcado pela desesperança, uma vez que se propõe a analisar um problema, mas não consegue lhe dar qualquer tipo de solução

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 21/03/2010 às 16:34Atualizado em 17/12/2022 às 06:05
Compartilhar

Estimado leitor, este é artigo marcado pela desesperança, uma vez que se propõe a analisar um problema, mas não consegue lhe dar qualquer tipo de solução.

Na madrugada do dia 12, o cartunista Glauco Mattozo e seu filho Raoni Ornelas foram assassinados no sítio em que moravam. O suspeito de cometer o crime é um sujeito que, em passado recente, havia sido ajudado por Glauco e sua família (Glauco fundou, nos anos 90, uma igreja para cultuar o Santo Daime e, por intermédio dela, ajudava as pessoas que o procuravam).

No dia 22 começará o julgamento do caso Isabella, em que o pai e a madrasta são os principais suspeitos de jogarem a menina pela janela. O caso teve uma enorme repercussão, pela forma brutal como o crime foi cometido. E a despeito do caso anterior, uma pessoa próxima da vítima teria cometido o crime.

Casos como esses fazem emergir uma velha preocupação do homem: qual o limite que nos separa da irracionalidade, da barbárie? Do ponto de vista histórico, há uma enorme quantidade de casos em que o ser humano agiu como uma verdadeira besta-fera. Somente no século XX, foram várias demonstrações de como o homem, em dadas circunstâncias, torna-se o mais perigoso dos animais.

Dizem alguns pensadores que o homem não consegue, por si mesmo, viver em paz com o outro. Há dentro dele uma maldade inata e, quando se sente ameaçado, agride primeiro, assim iniciando uma luta sem fim. Um com medo do outro se digladiam até a morte. Como fazer para não vivermos neste estágio tão primitivo? Deveríamos seguir as leis, respondem os especialistas. Os limites impostos pelas normas de conduta nos fariam mais racionais e, portanto, menos bestiais.

O problema é que leis temos e, entretanto, a animalidade do homem não é controlada. Ao contrári temos visto, pasmos, crimes cada vez mais hediondos acontecerem (o que dizer do garoto João Hélio, arrastado por quilômetros preso a um cinto de segurança?). A cada fato como esse, pensamos não ser possível existir algo mais cruel. Mas, para nossa surpresa, o próximo, às vezes, esmera-se em ser ainda mais bestial. Não, a existência da lei, por si mesma, não controla o lado animalesco do ser humano.

Então, o problema estaria na não-aplicação da lei; correto? Não sei. É óbvio que vivemos num País onde sempre se dá um jeitinho para burlar as normas, privilegiando classes e pessoas. Também sei que, com realidades tão díspares, fica muito difícil aplicar a lei com rigor. Isso sem falar da absoluta falta de vontade política das pessoas que nos governam em fazer leis melhores e mais eficazes.

Entrementes, não estou convencido de que o problema da violência absurda que nos cerca será solucionado quando um código de conduta mais rígido for adotado e respeitado por todos. Há países em que as leis são de conhecimento da imensa maioria da população e nem por isso a criminalidade diminui.

Outra possibilidade de investigar essa querela é considerar que o homem é bom desde o seu nascimento, possuindo uma natural propensão para as virtudes. Nesse caso, explica-se a violência creditando-a ao sistema social. A sociedade é um organismo vivo que, vez ou outra, adoece. Doente, ela corrompe a mais bela das almas e, pronto, o indivíduo se vê praticando atos vis. A solução seria, propõem os adeptos dessa teoria, fazer uma profunda reforma na vida coletiva. Duvido também dessa possibilidade.

Enfim, é como eu disse no início deste text ainda não consegui elaborar uma interpretação para a extrema brutalidade com que estamos nos tratando. Voltaremos ao tema.

(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM OnlineLogotipo JM Online

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por