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Semana Santa

Tenho repetido que cronistas hebdomadários (esta te pegou, Dino! Vai pro dicionário...) devem ligar seu escrito aos acontecimentos recentes

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 31/03/2010 às 20:17Atualizado em 20/12/2022 às 07:20
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Tenho repetido que cronistas hebdomadários (esta te pegou, Dino! Vai pro dicionário...) devem ligar seu escrito aos acontecimentos recentes e chamativos. Isto estabelece um entendimento com seus leitores, que podem gostar ou desgostar do que está escrito – mas de qualquer maneira irão até o final da crônica, o que já é uma vitória. Pois bem, meus caros leitores, vocês devem estar pensand agora é Semana Santa, desta vez ele (no caso eu...) atolou o carro.

Existe uma histórica convicção, herdada dos velhos tempos, de que Semana Santa é de recolhimento espiritual, do sofrimento da paixão de Cristo, da penitência, abstinência de carne e suas paixões, a confissão, a expectativa do perdão e da glória da ressurreição – que só acontece no domingo final. Passo e assisto à Semana Santa dos Novos Tempos. No Antigo, nem música ou barulhada forte cabiam nestes dias. Era esquisito, eu me lembro, a gente falava baixinho, estava no Evangelho da missa a Paixão segundo São Mateus, o mais extenso e perfeito relatório do final de Jesus Cristo e dos tribunais da terra. Era triste, eu era garoto, imaginem, participando e assistindo da procissão dos encontros, emocionante, as ruas repletas, um bater no peito triste, sofredor, contagiante. Vi gente chorar, meus amigos. Gente grande e vivida, bater no peito, o pedido de perdão escondido valendo pelos pecados escondidos e desconhecidos.

Eu me lembro, amigos, há coisas que a infância guarda pela vida afora. Aquela Semana era triste, pesada, difícil de passar e terminar. Vinha afinal a Páscoa, a Ressurreição, a grande Festa. Acontece, devo confessar, que me impressionava mesmo era a Semana, seu silêncio pesado e triste, que nem a pregação vitoriosa dos nossos sacerdotes conseguia apagar. Aí eu, moleque, pensava aqui comig por que não fazer um dia o sofrimento total, e depois na semana inteira a alegria da Ressurreição? Agora, visto e passado o quase tudo da vida, acho que Mateus tinha razão. Era preciso contar tudo, porque o tudo é como é a nossa vida, uma passagem, apenas, de onde nos lembramos com facilidade dos sofrimentos, das injustiças, da morte de ideais e sonhos.

Em nossa visão curta e interesseira, não pensamos na Páscoa da alegria de viver, dos filhos, dos amigos, das tantas alegrias e felicidades que Ele nos deu, discretamente, sem pedir troca ou reconhecimento. Eu vi, nós todos vimos, o julgamento da menininha assassinada pelos pais. De triste, achei ver tanta gente feliz com a condenação dos réus, que só Deus poderá julgar. Eu mesmo, de certa forma, participei: a crueldade é sempre repugnante. Mas, e aquela história do Cristo vivo junto à pecadora que devia ser apedrejada para morrer? E Ele calmo... quem não tiver erro, atire a primeira pedra... Nós não matamos Natalias, mas será que não matamos sonhos, alegrias, felicidades que valem tanto quanto uma vida? É aquela história final: a Ressurreição é que vale, mesmo passando pela morte. A todos que me assistem e toleram: uma Feliz Páscoa!

(*) médico e pecuarista

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