Estamos no fim da Quaresma, vivenciando, nesta Semana Santa (na verdade, uma semana e mais um dia), os passos de Jesus, desde o Domingo de Ramos e a caminhada do Filho de Deus para o Calvário, até a gloriosa Ressurreição (Domingo de Páscoa). Ecoam nos ares os cantos solenes: “... agora é tempo de contrição...”
E ficamos reparando os costumes de hoje... tão diferentes dos de meio século atrás, quando todos os fiéis levavam a sério os rituais, penitência, jejum, abstinência, confissão, eucaristia, procissões, tapetes de flores, ajuda aos necessitados...
As cerimônias eram acompanhadas com respeit sabíamos que as cinzas utilizadas na cerimônia de Quarta-feira de Cinzas, no início da Quaresma, lembram ao homem que ele é finito, é pó. E, na Semana Santa, participávamos das cerimônias de Ramos, Missa da Ceia do Senhor, Lava-Pés, adoração da Santa Cruz, Via Sacra, procissões e, na Sexta-feira da Paixão, lembrávamos a Morte de Jesus na Cruz. E os fiéis se confessavam durante a Quaresma para participar da eucaristia no Domingo de Páscoa.
Até hoje nos fica a impressão de que a Sexta-Feira Santa parece mesmo um dia de silêncio na natureza. Um clima de tristeza, um dia cinzento, partilhando a morte do Filho com todos os homens. Multidões participam da Procissão do Enterro, com a participação comovente de Verônica...
No Sábado da Aleluia, praticamente em cada esquina, via-se um boneco de pano (representando Judas), que era apedrejado e queimado, como um desabafo do povo, ou vingança: era a malhação do Judas. Hoje quase não se veem cenas como essa. Em muitos lugares, cidadãos preferem queimar um boneco que represente algum político que os traiu.
Domingo de Páscoa é dia de festa para os cristãos! Jesus vive! O ovo, um dos símbolos da Páscoa, significa justamente essa vida nova, a ressurreição. Infelizmente, com o consumismo, hoje esse domingo acaba sendo marcado pela comercialização de ovos de Páscoa, fato que assume, a cada ano, mais vigor.
Quaresma, no passado, era uma época realmente diferente. A vaidade era posta de lado e muitas mulheres abandonavam batons e cosméticos. O cabelo não era penteado... ajeitava-se o cabelo, mas o pente ficava de lado. Também não se cortavam unhas. Os espelhos da casa ficavam todos cobertos, por não se podia olhar neles. E não se varria a casa.
Até o rádio, soberano na comunicação naquele tempo, ficava desligado ou era ligado bem baixinho, exclusivamente para se ouvir o noticiário. E todos se comunicavam falando baixo; não se levantava a voz. Não se faziam batizados, casamentos ou festas. E não se ouviam músicas.
Estilingue? Nem pensar em utilizar arma tão poderosa na semana especial. Seria imperdoável matar um passarinho ou um lagarto que estivesse dormindo ao sol sobre o muro de taipa.
Também não se comia carne vermelha na Semana Santa. Quando muito, ovo, ou um peixe, como o bacalhau. Quaresma, para muitos fiéis, era tempo de jejum total.
Nossas ideias se transformam com o tempo. E com elas, os costumes. Porém mesmo com costumes diversos dos daqueles tempos, ainda hoje o importante é não nos esquecermos de que o Filho de Deus entregou a própria vida pela salvação da humanidade. Maior prova de amor não há. Por isso, mais que o Natal, esta é a maior festa dos cristãos. Feliz Páscoa para todos!
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro