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Semana Santa

Em meus anos de criança e juventude existiam três ocasiões importantes

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 16/04/2014 às 19:36Atualizado em 19/12/2022 às 08:11
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Em meus anos de criança e juventude existiam três ocasiões importantes na minha vida: meu aniversário (presentes!), Semana Santa (o sofrimento e morte de Jesus) e Natal (mais presentes!). Curiosamente as partes festivas foram permanecendo importantes – mas a Semana do Calvário foi-se sacrificando e perdendo a importância. Onde estão o cerimonial do lava-pés, a proscrição de Judas, a última ceia, a flagelação terrível, a marcha ao calvário, a morte de Cristo? Penso que os sofrimentos de Jesus contrariam os tempos modernos, que somente querem e aceitam o que é prazer e gozo. Lembro-me do antigo silêncio dos bares e clubes, da humanidade recolhida, da Paixão de Cristo, sufocante e angustiosa – da solidariedade no sofrimento. Agora desço de carro para o hospital, navego por ruas barulhentas, a juventude somente pensa no fim de semana que nem sequer sabe porque algum lamento ou sofrimento. As nossas igrejas estão semivazias, programação tímida, um sofrimento recolhido e oposto àquela alegria esfuziante e barulhenta do Natal. É certo que a alegria do Natal nunca irá competir com a tristeza da Paixão. Entretanto, aqui no consultório deserto, lembro-me de uma oração curta, porém de lembrança e solidariedade ao Senhor. Uma mistura talvez desagradável do sofrimento, dos arrependimentos, de um perdão que a gente quer pedir e tem vergonha de dizê-lo. Não escrevo, não falo e nem penso pelos outros todos. Apenas recolhido solitário em fuga isolada na igreja em hora deserta abro um pouco o coração – alguma parte dele está sofrendo com o Senhor. Sinto não ter embaixador lá no céu para me representar – mas minha mãe nunca deixou a peteca cair... ela está rezando por mim, nossas famílias, nossas vidas. Resumindo de forma pessoal, os alegres natais são festas da nossa feliz explosão externa. A Paixão de Cristo é recolhimento interno, pensar, sentir, talvez sofrer. Entretanto, sobra-me sempre um consolo de idoso velhaco e sabid Deus é bom, logo ali adiante virão as aleluias da consolação. Afinal, este é o meu Deus...

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