Quem não semeia não colhe. Não há como tirar alguma coisa de onde não tem. Os frutos dependem muito da qualidade da semente plantada, ou da muda que é regada com o cuidado no trabalho. Essa é a dinâmica da natureza, mas para produzir uma boa colheita ela deve ser tratada. A terra precisa ser boa porque a semente que cai em terra boa produz bom fruto (cf. Mt 13,23).
A nação brasileira é um terreno fértil, de muita riqueza e diversidade nos múltiplos aspectos. Existe o polo também da pobreza cultural, econômica, fragilidade política e condutas questionáveis. Em meio a tudo isso, as sementes do bem não são plantadas da forma como deve, trazendo como consequência colheitas indesejáveis, frutos ruins e de sofrimento para muitas famílias e cidadãos.
Em suas palavras, Jesus cita quatro tipos de solos onde é plantada a semente da sua mensagem: à beira do caminho, no solo pedregoso, no solo espinhoso e no solo bom. Ele está se referindo ao coração das pessoas, e podemos dizer o coração dos brasileiros, esperando frutos de vida e dignidade. A fertilidade está no interior da pessoa, mas depende do tipo de terreno que cada um está sendo.
A semente, ao germinar e brotar faz isso por uma força capaz de remover a terra, e dali surgir nova vida. Na vida humana acontece a mesma coisa. Colhemos os frutos daquilo que plantamos, seja na família, nas questões sociais, políticas, econômicas e em todos os tipos de relações. Plantando paz ou violência, os frutos serão também dentro do mesmo nível, com paz ou com violência.
Parece que o mundo está colhendo os frutos que vem plantando. O coronavírus não é uma realidade “por acaso”, e tem abrangência universal. Ele não faz seleção de pessoas, a não ser os que se protegem com mais severidade. Estamos colhendo mortes de pessoas diariamente e com projeções de futuro indeterminado caso não seja mudado o perfil da cultura de irresponsabilidade.
Agora temos que imaginar as consequências da pandemia. Está sendo um tempo de plantar sementes. Como serão os frutos não sabemos, a não ser a diminuição no poder econômico, a falência de muitas firmas, o crescimento do desemprego e o aumento de pobreza da população. Tudo isso vem alertar que os rumos da sociedade precisam mudar, principalmente na construção da solidariedade.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba