Nós nos julgamos muito criativos. Na realidade somos excelentes imitadores
Nós nos julgamos muito criativos. Na realidade somos excelentes imitadores. Com o tempo vamos assimilando comportamentos, modo de falar, de vestir, de ser, de culturas que julgamos superiores à nossa.
No Segundo Reinado, fomos os mais famosos imitadores de uma língua estrangeira, do francês. A cultura da Corte de Dom Pedro I foi o primeiro. Nosso segundo imperador foi educado na França. Com o tempo, sua influência foi se tornando cada vez mais forte. Era “chic” falar o francês. Na Corte só se falava francês. As damas de honra eram educadas em francês. Até as mucamas arrastavam, bem estropiado, mas se faziam entender.
Com a vinda da República, a influência francesa continuou. Era elegante ler os escritores franceses. Nos intelectuais citavam Dumas, Montesquieu, Mont’Alembert, Volaire, Conte, Victor Hugo e muito mais. A influência do francês atingiu até o interior.
No fim do Século XIX, aqui em Uberaba havia dois Colégios importados da França, Colégio dos Maristas e das Irmãs Dominicanas. Quando eu estudava de 1935 para frente, cantávamos a Marselhesa e tínhamos aulas de francês todos os dias. Qualquer aluno de 13 anos já sabia cantar o “Frère Jacques”.
Centenas de termos franceses foram incorporados em nossa linguagem cotidiana: toilet, comment allez-vous, vis-à-vis, rouge, chauffeur, petit-de-foie-gras, e centenas de outras.
Acontece que o mal não acabou. Piorou. O inglês tomou o lugar. Nas “vitrines” já se leem “on sale”, “35% off”. Nossas grandes casas comerciais viraram “Shopping”. Há dias percorri os corredores de uma casa comercial, lendo o nomes. Não se assustem, 80% eram expressões inglesas.
Não tenho mais espaço. Só mais um fato. Estava em Montreal, no Canadá. Andando pelas ruas, numa lojinha, vi exposto um par de tamancos. Escrit “Brazilian shoes”. Visitei várias cidades. Não vi nunca um anúncio sequer em português. Eles valorizam sua própria língua. Nós desvalorizamos a nossa.