Um leitor perguntou ao escritor americano Truman Capote se gostaria de ser pai
Um leitor perguntou ao escritor americano Truman Capote se gostaria de ser pai. A resposta foi chocante: “Não, não quero condenar ninguém à morte”. Foi deste episódio, por uma estranha associação de ideias, que eu me lembrei quando li nos jornais a ameaça de nossa “egrégia” Câmara Legislativa Federal de vetar algumas reformas anunciadas por nossa presidente. Foi uma tradução orgulhosa dos ditadores: “Aqui quem manda somos nós”. A emenda proposta seria sobre o salário dos aposentados. Ninguém ignora que, no Brasil, aposentadoria pelo INSS é um autêntico suicídio. Quanto mais velho o idoso fica e mais necessita, menor sua aposentadoria. Fico lembrando de nossos representantes lá de Brasília. O Senado emprega cerca de dez (10!) mil funcionários. Cada deputado (emprego excelente), além de um invejável salário, tem ao seu dispor carro e motorista, moradia gratuita, dezenas de funcionários e muita coisa mais. (Lembrei-me do Tiririca. Perguntado se estava feliz como deputado, sorriu: “Aqui é ótimo, a gente não faz nada e ganha muito”). Segundo relatório recente, nada menos de 30 milhões de processos esperam julgamento. Enquanto isso, os corredores dos hospitais públicos estão abarrotados de doentes esperando para serem atendidos. Na Educação nem é bom lembrar dos salários irrisórios dos professores. (Você se recorda por que me lembrei do Truman Capote?).
Bem, voltemos aos aposentados. A situação deles é de matar de vergonha. Dou meu exemplo. Aposentei-me com cinco salários como professor universitário, o suficiente para viver tranquilo em minha velhice. Hoje, recebo menos de dois salários. Conheço muito idoso que se aposentou com 10 salários e hoje ganha apenas três. Para quem ficou o restante? Adivinhe! Quando o idoso mais necessita de recursos (médico, remédios, assistência hospitalar, alimentação adequada, locomoção) “está condenado à morte”.
Quando estudante, aprendi que Democracia era “o governo do povo, pelo povo, para o povo”. Governo “para” o povo... Literatura.
Há dias li uma reportagem sobre a Suécia, principalmente sobre o atendimento aos idosos. Tive vergonha de ser brasileiro.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro